Este humilde blog tem mais sorte do que merece.
Pois se Maomé-Augusto não vai à montanha (por que ele pesa mais que uma montanha), a montanha vai a Maomé-Augusto.
Eis que o companheiro Danilo Kossoski mandou este artigo apresentando dois personagens bem pouco conhecidos no Brasil!
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Spirou e Fantásio – longa vida aos personagens!
*Por Danilo Kossoski
Sou um desses caras que entra em livraria sempre que possível. Olha tudo, e não compra nada. É verdade que, muitas vezes, isso acontece porque quero economizar uma grana, ou porque encontro o mesmo livro no sebo, pela metade do preço. Mas, é que dificilmente encontro algo que realmente me interesse. Acontece que um dia me deparei com um único exemplar de um álbum de história em quadrinhos que me fez gastar um pouco mais do que esperava.

“Luna Fatal” era uma HQ de dois personagens que eu sequer sabia que existiam. Seus nomes: Spirou e Fantásio. Os autores eram para mim igualmente desconhecidos: Tome e Janry (não confundir com Tom & Jerry). No momento em que coloquei os olhos nos desenhos das primeiras páginas, senti aquele arrepio que faz com que os pêlos do braço fiquem em pé. A qualidade dos traços, das cores e do roteiro fizeram com que eu me tornasse instantaneamente um fã de Spirou e Fantásio, e buscasse mais informações a respeito deles.

Nesse sentido, não sei o que seria de mim sem a internet, e o Google. Pulando de um site para o outro, descobri coisas fascinantes. Spirou é um repórter educado e aventureiro, que costuma usar um curioso uniforme vermelho, herança de suas primeiras aparições em veículos impressos, ainda na década de 1930. Fantásio é fotógrafo, e companheiro inseparável de Spirou. Ambos são bastante populares na Europa. Comparados, em sucesso, ao igualmente repórter Tintin, do desenhista Hergé.

“Luna Fatal” foi, aparentemente, a única aventura dos personagens editada em português para o Brasil. Muito mal editada, diga-se de passagem. Os balões trazem erros grosseiros de gramática, com letras que vazam para fora do contorno. Algo que só não destrói o trabalho dos desenhistas porque eles são mesmo muito bons. Essa, pelo menos, é minha opinião. Na Internet (essa entidade sem rosto e endereço), há quem critique o roteirista Tome (o francês Philippe Vandevelde) e o artista Janry (o belga Jean-Richard Geurts) como sendo pouco detalhistas. Caramba! E o que me fez comprar o álbum foi justamente o nível de detalhes.

Companheiro inseparável de Spirou e Fantásio, o esquilo Spip torna as situações muito mais cômicas, com seus pensamentos que podem ser “ouvidos” apenas por nós leitores. As expressões do bichinho me fizeram rever as páginas do álbum apenas para conferir seu comportamento singular em cada quadrinho.

Assim desvendei uma parte da história dos personagens. Fiquei chocado ao descobrir que eles possuem apenas uma comunidade digna de registro no internacional Orkut, com apenas 19 membros (20 agora) e que está abandonada há diversos anos. A Wikipedia, no entanto, traz uma pequena amostra do número de personagens que acompanham Spirou e Fantásio ao longo de suas histórias. São tantos, que fica impossível citar todos aqui.

Pudera, Spirou existe há cerca de 70 anos! Criado originalmente pelo francês Rob-Vel o personagem ilustrou uma publicação também chamada Spirou. O herói ganhou o amigo Fantásio e, ao longo dos anos, passou pelas mãos de diferentes artistas. Foi assim que Spirou conheceu (ou terá sido o contrário?) Jijé, Franquin, Jean-Claude Fournier, Yves Chaland e argumentistas como Calvin, Tome, e Morvan (não significa que eu conheça toda essa gente, só estou citando informações encontradas na internet). A cada novo traço, ele ganhou amigos e fantásticas aventuras, em diferentes lugares do mundo.

Lembra de um desenho animado maluco que passava na Globo há poucos anos: “Marsupilami”? Era um bicho amarelo com pintas pretas, que lembrava um macaco, e tinha uma calda enorme. Pois olhe só, foi um dos personagens que acompanharam Spirou e Fantásio! Estranho pensar que esse coadjuvante já esteve nas telas brasileiras, enquanto os protagonistas permanecem lá na Europa.
No entanto, aqui vai a dica... Se alguém procurar do modo correto, pode encontrar uma boa parte dos álbuns dos personagens scanneados na internet, e prontos para download. Desde alguns mais velhos em preto e branco, até os desenhos mais recentes. Uma chance de acompanhar a evolução dos traços ao longo dos anos. O inconveniente é que estão todos em outro idioma. Mas, sabendo um pouco de espanhol ou inglês, é diversão garantida. E que novos desenhistas dêem seqüência a essas aventuras, que elas sejam infinitas.
*O autor é jornalista e cartunista. danilomk@gmail.com