quarta-feira, dezembro 23, 2009

Quadrinhos políticos

"História em quadrinho sul-coreana alerta para ameaça do norte

por Christian Oliver, do Financial Times

Os serviços de segurança sul-coreanos apelaram para histórias em quadrinho e jogos de computador para alertar aos jovens 'mal informados' que a Coreia do Norte nuclearmente armada continua sendo uma ameaça." [leia mais]

terça-feira, dezembro 22, 2009

Mais com o Jackson



Fiquei sabendo dessa pérola no site Zine Brasil. Cutuque aqui para ir ao post original.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

"Um intercâmbio muito louco" ou "Santiago versus Reinhard Kleist" ou "Santiago & Reinhard Kleist"

O título deste post é confuso, porque nem eu mesmo sei o que quero relatar. Mas tenho a sensação de que é algo curioso, que merece sim ser relatado. Senão, você pode se ocupar com tantas outras coisas aí na internet, tem muita coisa MESMO. Mas, claro, você só vai saber se vale a pena a história deste post depois de ter lido...

Bom, vou começar do começo. Acho que o começo é este aqui. O link que acabei de colocar remete a um post relatando a passagem do quadrinista alemão Reinhard Kleist pelo Brasil. Kleist esteve por aqui a convite do Instituto Goethe para participar de um evento sobre quadrinhos de não-ficção (que terá continuidade em 2010, só pra avisar). Aproveitamos a ocasião para lançar em português "Johnny Cash - uma biografia". Como eu estava envolvido dos pés à cabeça no projeto (o livro inclusive foi traduzido por mim), acabei sendo o cicerone do alemão no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.

Até aí, tudo bem, já foi tudo contado no primeiro link neste post. A novidade veio por uma certa janta que fizemos num restaurante em Porto Alegre. A ideia era pôr o Kleist em contato com os quadrinistas gaúchos, para provocar intercâmbio e troca de ideias. Quem aliciou o povo foi o quadrinista Maumau, que já havia conhecido o Kleist no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte e, portanto, sabia que essa mistura daria liga.

Ficamos todos lá, no restaurante, nos comunicando em inglês, enrolation e linguagem universal dos sinais. Kleist aprendeu como seriam os nomes em inglês de algumas cidades gaúchas ("Deep step", "Don't touch me", "Little guy"). Lá pelas tantas, chegou o Santiago.

O Santiago, todos sabem, é um ícone do quadrinho gaúcho e nacional, com boas andadas internacionais para ser conhecido também no exterior. Isso já sabia o Kleist, eu havia deixado-o previamente avisado. Santiago chegou tímido, sentou num canto da mesa. De vez em quando, pedia pra eu traduzir algo direto pro alemão para o Kleist. Lá pelas tantas, me entregou um papel enrolado e disse: "um presente pro alemão!"

Bem, eu entreguei, e o papel, ao ser desenrolado, mostrava este desenho, em tamanho aumentado, lógico:

O desenho retrata um bailão gaúcho. Você pode cutucar com o botão direito do mouse e abri-lo ampliado em uma outra janela.

Não há nada mais difícil de traduzir do que a linguagem regional, principalmente a extremamente regionalista, como é o caso do desenho do Santiago. Alguns neurônios meus se perderam no processo e, confesso, o significado das frases e da cultura retratada no desenho também. Sorte que os desenhos falam por si. O Kleist ficou contentíssimo com o presente e, a partir daí, não precisei traduzir mais nada: a comunicação entre eles passou a fluir na linguagem universal do humor.

No outro dia, após o evento no Instituto Goethe, Santiago entregou ao Kleist um recorte de jornal. Tratava-se de uma reportagem sobre o quadrinista norte-americano Oliver Harrington. Santiago soube que Harrington morou seus últimos anos de vida em Berlim, cidade onde fica o ateliê do Kleist, e quis compartilhar. Kleist não conhecia o quadrinista e voltou para casa interessado e com o recorte de jornal na mão.

Eu não sei por que conto essa história. Ela nem me parece ter um fim (o que, de certa forma, é até bom, não acha?). Acho que ainda mantenho um ar estupefato ao me dar conta que alguém lá do outro lado do mundo veio até a Porto Alegre em que nasci e moro falar sobre coisas que vão ficar. E que esse mesmo homem atravessou o oceano de volta para casa levando para lá coisas que, imagino, também reverberarão por lá, e que ele só poderia ter encontrado aqui.

Enfim, uma verdadeira troca!

quinta-feira, dezembro 17, 2009

(pro)Criar HQ

O Ricardo Tayra fez um post muito interessante no Sapos Voadores sobre como criar quadrinhos online. Tayra compilou alguns sites que permitem a brincadeira de criar HQs usando seus personagens favoritos.

sábado, dezembro 12, 2009

A/em respeito do/ao vale-cultura

Há alguns dias, iniciou-se um manifesto informal na internet, principalmente em plataformas como o Twitter. O alvo das mensagens é Gilberto Dimenstein, que, segundo os usuários, teria dito que "gibi não é cultura". Em função disso, muitas pessoas que reconhecem os quadrinhos como gênero adulto e como uma linguagem madura iniciaram uma espécie de corrente, com mensagens do tipo: "Sr. Dimenstein, 'Persépolis' não é cultura?" Foram citadas outras grandes obras no formato dos quadrinhos para questionar a suposta afirmação de Dimenstein.

Antes de opinar sobre o assunto, eu procurei ter acesso à fala original de Dimenstein, pois sempre há distorções. Demorei a encontrar, mas finalmente achei. O post que ele escreveu para a Folha Online é este aqui:

"Mulher pelada é cultura?

Comentei aqui por diversas vezes que considero o vale-cultura, capaz de envolver até R$ 7 bilhões, um previsível desperdício --o dinheiro seria mais bem usado se focado nos estudantes das escolas públicas. Desde ontem, meu receio aumentou ainda mais, pela possibilidade de que, com esse benefício, mulher pelada também seja cultura. Ou gibi.

Foi aprovada uma emenda no Congresso permitindo que o vale-cultura seja usado para comprar jornais, revistas e gibis. Senadores argumentaram que, com isso, revistas como a 'Playboy' seriam beneficiadas, mas a emenda foi aprovada assim mesmo.

Nada contra a 'Playboy', mas mulher pelada não é cultura --muito menos com dinheiro público."

O post pode ser lido no original neste link.

Pois bem. Literalmente, Dimenstein não disse que histórias em quadrinhos não são cultura. Embora isso possa ser lido nas entrelinhas, claro. Mas o que ele disse de fato é que revistas como "Playboy" não são cultura. E que "gibis" talvez também não fossem.

Entendo a reclamação apaixonada de todos aqueles que fazem ou lêem quadrinhos. É inclusive legítima. Não acho, porém, que a fala de Dimenstein deva ser questionada em função do que ele (supostamente) falou sobre quadrinhos. O ponto é justamente outro: a questão da regulação do uso do vale-cultura. E é sobre isso que deixo alguns pensamentos:

1) em primeiro lugar, dizer que tal coisa é ou não cultura é um pensamento elitista e, desse ponto de vista, dominador. O mesmo é válido para essa vontade de quererem que o governo estipule em que tipo de publicações ou espetáculos o vale poderia ser usado. Se eu fosse fazer uso do vale-cultura, não gostaria nem um pouco que outra pessoa escolhesse, em meu lugar, ao que eu devo ou não ter acesso. Ao que eu devo ou não devo gostar. Até porque, gosto é algo que muda com o tempo, e precisaria haver um mecanismo que acompanhasse essa mudança individual. É, portanto, algo impossível de se pôr em prática.

2) entender que "gibi" ou "revista de mulher pelada" não são um produto cultural legítimo é questionar toda a validade de uma cultura que é popular e expontânea. Pessoas cultas não podem ler gibis? Nunca leram? Nunca viram fotos de mulheres peladas? Tem também aquela história - que, apesar de positiva, também é uma visão erudita do fenômeno - de que muitas pessoas iniciam a leitura por meio do gibi e depois vão "qualificando" o seu gosto literário. Isso já é um argumento a favor da auto-regulação do vale-cultura. Mas sou mais do pensamento do antropólogo Felipe Lindoso, que prega que as bibliotecas devem ter best-sellers e todo tipo de livro que o leitor queira ler. Só assim se faz uma real disseminação e democratização do acesso aos bens culturais. Sem falar que a dita cultura erudita segue disponível mesmo para quem usufrui especialmente da cultura dita popular. Vai caber então ao usuário do vale-cultura decidir no que ele deve usar. E essa decisão pode ir mudando com o tempo, conforme os bens culturais que ele tiver acesso. Mas primeiro ele precisa ter acesso a esses bens...

3) na fala de Dimenstein, antes de qualquer preconceito em relação aos quadrinhos, identifiquei um preconceito em relação ao gosto popular. Uma primeira observação: a fala dele dá a entender que um dos maiores usos do vale-cultura seria para compra de revistas com mulheres peladas. Mas então as mulheres não teriam acesso ao vale-cultura? Outra observação: baseado em que se pode dizer que, se a população tivesse acesso ao vale-cultura, investiria primordialmente nesse tipo de publicação? Não vejo motivos concretos para isso. Não haverão famílias interessadas em ir no teatro, quem sabe pela primeira vez? Ou casais indo ao cinema? Ou amigos presenteando livros de algum tema que interesse ao outro? A ideia de que uma população pobre investiria primordialmente em gibis e revista de mulher pelada (ainda que não me soe um investimento ruim) é, no meu ver, preconceituosa e machista.

4) agora um pensamento voltado especificamente para essa opinião de Dimenstein sobre revistas de mulher pelada: sei que não são todas, mas muitas dessas publicações vem também com texto. E textos bons. E quadrinhos bons. Você pode dizer: o leitor comum só vai querer ver as fotos! E, no caso de alguns leitores, eu posso concordar com você. Só que não vou ver mal nenhum nisso. Os textos e as fotos, aliás, vão estar no mesmo lugar, disponíveis a outros leitores, e isso pode abrir portas para outros tipos de conhecimentos. De quem quiser ir atrás deles, claro.

5) para finalizar, a proposta do vale-cultura me parece um meio real de democratizar o acesso à cultura, principalmente por fazer com que a própria população de baixa renda perceba a importância da cultura em suas vidas, na medida em que vai ter um recurso especialmente voltado para isso. Querer regular ao que o vale dará acesso é ir contra o espírito do próprio vale-cultura. Salvo exceções de cunho meramente mercenário, claro, pois certamente haverá empresas que usarão o vale com intenções auto-beneficentes. Mas aí já seria outra discussão..

Quem quiser acrescentar ideias, opinar, discordar etc fique à vontade! Minha visão de mundo não é erudita o suficiente para impedir à sua!

sexta-feira, dezembro 11, 2009

"O corvo", do Poe

Leia sobre a adaptação para quadrinhos de "O corvo", de Edgar Allan Poe, cutucando aqui. Você vai parar numa matéria da Revista Cult.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Ramones e Homem-Aranha



Para entender o contexto, cutuque aqui. Você vai parar no blog do Gabriel Rocha, o responsável por encontrar essa pérola.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

A Maga Patológica vai sentir inveja...

J. K. Rowling, autora da série Harry Potter, ganha uma biografia em quadrinhos. Cutuque aqui para ver.

domingo, dezembro 06, 2009

A arte do Art

O jornal Folha de São Paulo publicou uma entrevista muito interessante com o Art Spiegelman. Cutuque aqui!

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Neil Gaiman fazendo cartilha sobre HIV?

Sim, é verdade. Pois foi o que o Marcelo Engster contou no Quadrinhólatra.

Cobertura não-jornalística

O portal G1 anunciou esta página do Arnaldo Branco como uma "cobertura em quadrinhos do Faith no More no Rio". Na verdade, é uma crônica, comentário ou qualquer outra coisa. Mas conteúdo jornalístico não é.

Ultimamente tem havido um interesse maior por parte dos mais variados veículos em publicarem quadrinhos no formato de reportagens. Geralmente, usa-se esse recurso para reconstituição de acontecimentos (se bem que toda matéria, mesmo em prosa, é reconstituição de acontecimentos...). No meu ver, esse aumento de interesse é muito positivo, do ponto de vista que abre portas para quadrinistas-jornalistas pensarem em termos viáveis de publicação. O lado ruim é que surgem muitas "reportagens" sob encomenda, e isso vem sem haver uma discussão mais sólida sobre o que uma reportagem em quadrinhos diferencia-se de outros estilos de reportagens e, o mais importante, em que medida a linguagem dos quadrinhos pode contribuir ou não para o jornalismo.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Colcha de informações

É tanta notícia, que, para dar todas, só posso fazer assim, em retalhos:

- o quadrinista Leandro Dóro fez sua versão em quadrinhos para poesias do Augusto dos Anjos. Cutuque aqui para ver.

- "Loucas de Amor - Mulheres que Amam Serial-Killers e Criminosos Sexuais" é um projeto que eu ainda não tive acesso mas que, pelo que ouvi falar, tem um quê de jornalismo em quadrinhos. Cutuque aqui para ter informações mais precisas.

- A Penguin Books criou uma coleção especial de obras literárias, cujas capas são feitas por quadrinistas de peso. Veja!

- O Matheus Moura, que comanda o Toka di Rato, escreveu no blog sobre uma raridade que ele achou em meio a tantos livros durante o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte. Veja aqui e acolá.

terça-feira, dezembro 01, 2009

Outra de mestre!

Demora um pouco para entender, mas, depois que cai a ficha, até quem não é gaúcho deixa escapar um "bah... que sacada!"

Me refiro a esta charge do Rafael Corrêa. O título, fundamental para captar a mensagem, é "Otimismo".

Baita sacada!

Recomendo esta charge aqui!

"Mãos ao alto!"...

... disse o Twitter para mim.

De início resisti, mas depois entreguei todo meu dinheiro. Os documentos, claro, ficaram comigo.

Tudo uma metáfora para dizer que este blog tem twitter. Na verdade, já tem algum tempo, eu é que não estava usando muito.

Bem, se interessar receber por lá o aviso de que tem algo novo cá (meio sem sentido isso, não?), basta cutucar aqui!

Uma certa sexta-feira 13...

Que vergonha... Ontem acabou novembro, mês de aniversário do cabruuum, e foram apenas quatro postagens! Uma pena que tenho tido tão pouco tempo para postar.

Esse tempo longe da web/perto da vida foi muito frutífero, porém, e também teve tudo a ver com quadrinhos. Hoje conto então, com mais de duas semanas de atraso, como foram os ótimos dias que passei em Santa Maria-RS no meio de novembro. Foi em Santa Maria, aliás, que este blog nasceu e foi onde eu me graduei em jornalismo.

Na verdade, a viagem começou mesmo em Dilermando de Aguiar-RS. Estive na escola Valentim Bastianello, já conhecida do leitornauta. Cutuque aqui para lembrar. Estive lá para ministrar uma oficina sobre uso de quadrinhos em sala de aula para as duas turmas de quinta série. A professora que me convidou - responsável também pelo convite para as oficinas anteriores - chama-se Ana Cláudia Machado Paim. Professora de artes visuais, mestre em arte e educação pela UFSM e, o melhor de tudo, minha irmã!

Bem, melhor contar mostrando fotos dessa sexta-feira 13!

No início da oficina, eu mostrei aos alunos exemplos de dois tipos de quadrinhos: históricos ou adaptações literárias. A intenção era aumentar o interesse dos alunos por temas didáticos em função do apelo da linguagem dos quadrinhos. Nessa tarefa, fui ajudado - E MUITO! - pela Conrad/IBEP e pela Companhia das Letras. As duas editoras, de maneira muito gentil, doaram livros do seu acervo diretamente para a oficina em Dilermando de Aguiar. Após o trabalho em sala de aula, os livros foram para a biblioteca, onde ficam à disposição de professores e alunos.

Depois que falei dessas obras, dividi as turmas em grupos. Cada grupo escolheu um livro e fez um trabalho sobre ele. Nossa ideia era montar uma mini-feira do livro no pátio da escola, mas a chuva impediu. Os cartazes foram então expostos no saguão da escola.

Na foto acima, os meninos fazem um cartaz sobre o livro "Moby Dick", da IBEP.

Nesta última, o cartaz é sobre "Jubiabá", da Companhia das Letras. O livro é uma adaptação para quadrinhos do romance homônimo de Jorge Amado. O autor da adaptação chama-se Spacca. Cutuque aqui para ler mais sobre ele.

Outra obra-prima do Spacca, o quadrinho histórico "Debret - viagem histórica e quadrinhesca ao Brasil".

Outra do Spacca! "Santô" conta a história de Santos Dumont, o inventor da aviação. Detalhe importante: na semana anterior a essa oficina, assisti a uma palestra do Spacca em Porto Alegre-RS. Trata-se de alguém preocupado em fazer arte, não em publicar livros. As obras só surgem após uma rica pesquisa histórica, que é transformada em quadrinhos por alguém que tem domínio da linguagem. É um trabalho recomendável para o leitor adulto e para o leitor mirim.

O legal é que, em função dessa coincidência inesperada de o Spacca ter viajado a Porto Alegre dias antes de eu ter ido a Dilermando, pude levar os livros doados pela Companhia das Letras para que o autor autografasse. Dias depois, quando mostrei às crianças o desenho feito especificamente para a escola Valentim Bastianello, elas ficaram em polvorosa!




Acima, exemplos de alguns trabalhos, depois de prontos. O primeiro é sobre "D. João Carioca - a corte portuguesa chega ao Brasil", do Spacca. O segundo, sobre "Moby Dick". O terceiro, também da editora IBEP, é "A ilha do tesouro", adaptação da obra de Stevenson.

De Dilermando de Aguiar-RS, fui à Santa Maria-RS. As duas cidades ficam bem pertinhas uma da outra. Fui convidado pelo comunicador Márcio Grings para participar de um bate-papo ao vivo na Rádio Itapema FM. Foi muito legal. Grings é um dos maiores entusiastas do livro "Johnny Cash - uma biografia", a biografia em quadrinhos de Johnny Cash, feita pelo alemão Reinhard Kleist. O Grings gostou tanto do livro que fez questão de organizar um lançamento em Santa Maria.

Saindo da rádio, fui para a CESMA, onde houve o lançamento oficial. Nas fotos abaixo, estou no palco falando sobre o processo de tradução do livro. Quem guiou a conversa foi o Paulo Teixeira, sentado ao meu lado. O Paulo trabalha na Cesma, coorganizadora do evento.



Esse foi um momento mágico para mim. Por vários motivos. Durante a faculdade, eu frequentava a Cesma nas sessões do cineclube Lanterinha Aurélio, que tem sede lá. Essa minha assiduidade, somada à programação de primeira, teve uma parcela fundamental na minha formação cultural. Então eis que de repente (tá bom, não foi tão de repente assim, foram dois anos e meio depois da formatura) eu estou no palco do auditório falando sobre um livro que eu traduzi. Outro motivo que me emocionou é que na plateia estavam muitas pessoas queridas para mim, especiais na minha vida e na minha formação.

Enfim, mais não digo, para não parecer (mais) piegas. Fato é que foi muito legal essa função em Santa Maria!

Agradeço muito o empenho do Márcio Grings e do Paulo Teixeira que, sem ganhar nada em troca, arregaçaram as mangas para organizar esse lançamento tão legal em Santa Maria. Agradeço a Rádio Itapema FM e o jornal Diário de Santa Maria, pela divulgação e coorganização. O mesmo para a Cesma, que ainda por cima cedeu o espaço.

Voltando à oficina em Dilermando de Aguiar, preciso agradecer especialmente à Companhia das Letras e à Conrad/IBEP, que doaram livros fundamentais para o trabalho na escola dar certo. Procurei as duas editoras por saber que têm um acervo propício a essa ideia de quadrinhos como aliado na educação e também como meio artísitico maduro.

Cito algumas obras que foram doadas:

Conrad/IBEP
"Chibata"
"Fun Home"
"Epiléptico"
Coleção "Quadrinhos Nacional"

Companhia das Letras
"Persépolis"
"Maus"
Obras do Spacca

São só alguns exemplos, as editoras doaram mais livros. Alguns desses livros - os de leitura mais densa, inapropriados para crianças - eu mantive comigo. Pretendo usar em outras oficinas.

Agradeço a todos os envolvidos em todos esses projetos quadrinhescos. Espero que essa intensa sexta-feira 13 renda muitos frutos mais adiante!

quarta-feira, novembro 25, 2009

Feliz aniversário atrasado!

No último sábado, o cabruuum completou 4 anos de vida. Talvez "vida" não fosse a palavra correta, em se tratando de uma coisa, e não um ser vivo. Mas o blog só adquire sentido enquanto eu escrevo nele, por um lado, e enquanto você o está lendo, por outro. Ou seja, é preciso vida pro blog ganhar vida.

Já dura quatro anos esse processo todo de dar vida a um objeto inanimado (que, aliás, nem objeto é: é coisa virtual). Inimaginável pensar nisso quando fiz o primeiro post, no já jurássico 2005.

Ultimamente tenho tido cada vez menos tempo para postar. Ironicamente, cada vez trabalho mais com quadrinhos, mas isso me deixa tão ocupado, que o tempo livre para escrever é escasso. Ainda assim, vaticino: o blog vai comemorar mais uns quantos anos ainda...

Obrigado a quem me lê e parabéns ao cabruuum!

terça-feira, novembro 10, 2009

"Johnny Cash - uma biografia", em Santa Maria-RS

Nesta sexta-feira 13, às vésperas do aniversário de 4 anos do cabruuum, estarei na terra natal dele lançando o livro que eu traduzi. Veja o resumo da ópera(-country):

O que: Lançamento da Biografia de Johnny Cash, de Reinhard Kleist

Tradutor: Augusto Paim

Quando: sexta-feira, 13 de novembro, às 19h

Onde: Auditório da CESMA

Quanto: R$35,20

Outras informações, você tem cutucando aqui e acolá.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Uma tira para se pensar...

... e se pensar em inglês!

Cutuque aqui!

Não hesite em pegar o dicionário. De filosofia, inclusive!

quinta-feira, novembro 05, 2009

Pega a bandeira, vem pra rua, vem participar!

Tem coisas dos bastidores do trabalho com quadrinhos que não chegam ao acesso do grande público. Velhas lutas, bandeiras levantadas pelos profissionais... Enfim. Mesmo eu, que não trabalho como quadrinista nem ilustrador, tenho tirado exemplos dessas questões para pautar melhor meus relacionamentos com chefes e editores.

Dois exemplos importantes:

1. sobre como concursos e "promoções culturais" são formas veladas de um comportamento não-profissional com ilustradores, principalmente em função do desconhecimento de quem cria os editais. Cutuque aqui! Sobre essa questão do pagamento com glamour, escrevi um texto outro dia, que publiquei no meu outro blog (e também no Overmundo).

2. sobre como a atividade de fazer quadrinhos é embebida de muitos preconceitos e estereótipos arraigados, como a associação com histórias infantis e de super-heróis, e sobre como as obras de arte dessa linguagem artística não são conhecidas do grande público. Cutuque aqui!

quinta-feira, outubro 29, 2009

Onde comprar sua biografia em quadrinhos do Johnny Cash

Há muita gente perguntando "onde posso comprar o meu exemplar de 'Johnny Cash - uma biografia'?"

Bueno, eu mesmo não sabia, mas agora vi que o livro está disponível no site da Livraria Cultura. Cutuque aqui para ver. Pode ser enviado para qualquer lugar do Brasil.

Em tempo: o livro, de autoria de Reinhard Kleist, ganhou o prêmio de melhor quadrinho alemão em 2008 e já foi traduzido para mais de cinco idiomas. Confira a matéria que saiu no site da revista Rolling Stone.

terça-feira, outubro 27, 2009

Para quem não pôde ir

A quadrinista Ana Luiza Goulart Koehler fez um favor imenso para quem não pôde ir semana passada na oficina com o quadrinista alemão Reinhard Kleist, no Instituto Goethe de Porto Alegre. O autor de "Johnny Cash - uma biografia" (cutuque aqui para ler matéria da revista Rolling Stone) falou sobre o seu processo fazendo biografias em quadrinhos.

Vai parecer frase de release, mas não é: quem esteve no workshop saiu de lá enriquecido. Realmente, o conteúdo foi de primeira. Koehler, que estava presente, fez inúmeras anotações e achou que isso deveria chegar a outras pessoas.

Bem, segue abaixo o resumo do workshop. Cutuque sobre a imagem para ler a página abaixo diretamente no site de Koehler.


quinta-feira, outubro 22, 2009

Jack Kerouac em quadrinhos


A reportagem acima (cutuque em cima para ampliar) foi feita por Márcio Grings (roteiro) e Paulo Chagas (desenhos) e saiu no jornal Diário de Santa Maria, do grupo RBS. Fez parte de um caderno especial sobre quadrinhos de não-ficção, publicado na semana passada.

Grings (que trabalha na Rádio Itapema SM, também do grupo RBS) teve a inspiração ao saber da notícia de que a obra "Johnny Cash - uma biografia" sairia no Brasil. Aliás, já saiu!

No blog do Grings, ele relata os bastidores envolvendo essa reportagem sobre o escritor beatnik Jack Kerouac.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Se Johnny Cash tivesse visto essa...

Coisa boa quando trabalho e diversão se misturam. Mas isso não é fácil de se conseguir, precisa de um grande empenho. Dá trabalho se divertir no trabalho.

Então, não foi fácil sair assim sorridente nesta foto, ao lado da minha namorada Greta Lemos e do quadrinista alemão Reinhard Kleist, em uma balsa para Niterói, no Rio de Janeiro, onde visitaríamos o Museu de Arte Contemporânea do Niemeyer.



O Kleist é gente finíssima, pessoa de uma simplicidade incrível. Nem parece o autor de uma obra vencedora do prêmio de melhor quadrinho alemão de 2008, a biografia em quadrinhos de Johnny Cash. Você já deve estar sabendo, né? Saiu no site da Rolling Stone Brasil...

Aliás, pensamos que era Johnny Cash o topetudo à esquerda na foto abaixo, tirada na festa de pré-lançamento do livro no Cine Lapa, na College Rock Party, no Rio de Janeiro.

Na verdade, ele é Erik Judson, autor e personagem das histórias em quadrinhos "Rocker", publicadas na revista Jukebox e na Mosh!, esta última já fora de circulação. Renato Lima, de amarelo na foto abaixo, quadrinista, editor e organizador da festa, foi o responsável por todo esse gostoso fuzuê em torno do Kleist no Rio de Janeiro. A moça da foto é Clara Polainas, DJ da festa.


Já o de vermelho é Maurício Garcia, vulgo "Mauk", músico, fã de Johnny Cash. Mauk ia tocar no pré-lançamento sábado à tarde em uma livraria carioca, com repertório especial e gentilmente preparado para o evento. Como a editora não enviou os livros, teve que ser cancelado.

Mas Mauk não se fez de rogado e foi ao Cine Lapa, onde ostentou a sua tatuagem com o tema Johnny Cash, mostrando que é fã mesmo:


Como diria Renato Lima, foi SEN-SA-CI-O-NAL! Mais de 350 pessoas foram à festa num dia em que choveu água e helicóptero no Rio... (seria cômico, se não fosse trágico)

Isso foi no sábado, dia 17. À meia-noite começou o horário de verão. No domingo, perdemos uma hora de vida no Rio e fomos para uma Porto Alegre ensolarada, o que serve de consolo.

Na segunda-feira, 19h, o evento que organizei com extremo empenho junto ao Instituto Goethe de Porto Alegre durante meses. Abaixo, fotos dos momentos antes de começar a entrevista sobre "quadrinhos de não-ficção: uma maneira de transmitir um conteúdo para o leitor".




Sei que essas fotos só tem interesse pros envolvidos mesmo, mas o blog é meu, eu tô feliz, e quero me exibir!

Eis fotos da entrevista, com imagens de livros do Kleist ao fundo.



Kleist havia preparado uma surpresa para o final. Ele quadrinizou a música "Hung my head", que foi interpretada por Cash no disco "American IV". Esses desenhos não estão no livro. Colocamos o som a tocar simultaneamente com as imagens, e essa se tornou a apoteose do evento.


No fim, sessão de autógrafos do livro, ou sessão de desenhos, como mostra a foto abaixo, onde Kleist pacientemente desenha Johnny Cash no livro de cada leitor...


O dia seguinte reservou uma oficina fechada para quadrinistas, onde Kleist explicou seu processo realizando projetos de não-ficção em quadrinhos, da pesquisa ao desenho final, passando pelo roteiro e pelos rascunhos. Foi algo de conteúdo MESMO! E colocado de maneira leve, por alguém que sabe lidar com as palavras. Os participantes elogiaram bastante.

Bem, no fim do dia, Kleist vôou de volta para a Alemanha e deixou aquele vazio no ar, aquele vazio que fica depois de cada transformação. Fica a certeza de que sua passagem por aqui não foi inócua, muito pelo contrário: ele foi embora, mas nos deixou muita coisa.

Tomara que ele venha gerar transformações aqui outras vezes!

***

Ps.: as fotos do evento em Porto Alegre são de Saul Lemos.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Uma festa psicológica

Reedição. Esse é um termo usado na psicologia para se referir àquelas circunstâncias em nossas vidas que estranhamente parecem se repetir, e se repetir, e se repetir, por mais que lutemos contra elas. Como "maldições de família". Como problemas sempre recorrentes em relacionamentos a dois (ou três, quatro, múltiplos de cinco...). Como se deparar frequentemente com a mesma situação nas relações profissionais. Como sorvete e gosto bastante.

(Eheheh).

Mas o termo também pode ser usado para coisas boas.

É, por exemplo, uma reedição isto aqui:

É reedição, porque na era preozóica do cabruuum, organizei em Santa Maria/RS uma festa de quadrinhos e rock'n'roll. Lembra? Não mesmo? Mas pensa bem...

Tanto lá quanto cá (me refiro ao Rio de Janeiro, para quem não cutucou sobre o cartaz para vê-lo ampliado), a parceria fundamental para a realização da festa é Renato Lima, quadrinista carioca. Aliás, cá ainda muito mais do que lá. Pois estou embarcando para o Rio apenas para curtir, todo o trabalho foi do Renato.

Vou aproveitar ainda minha curta estada no Rio para participar da 2ª Semana de Quadrinhos da Travessa.

E, na segunda-feira que vem, volto com tudo para esta preciosidade que estou organizando há meses em Porto Alegre, um evento que tem suas raízes nas minhas desventuras cuidando de crianças na terra das palavras impronunciáveis, a Alemanha. Só para marcar que há muito suor (mas sangue não, felizmente) por trás do evento:

Essa é outra coisa que vou torcer que seja atingida pelo fenômeno da reedição.

terça-feira, outubro 13, 2009

Hoje, na sua tevê!

A quem interessar possa, vou aparecer na tevê. Bem, isso não interessa à muita gente, a não ser pelo fato de ser num programa ao vivo, o que gera uma certa chance de eu cometer gafes ou pagar micos. Não é minha intenção ter esse desprazer/dar esse prazer ao público, mas, quem sabe, vai saber! Tudo pode acontecer!

Bueno, hoje, às 18h, vou estar no programa Radar, da TVE gaúcha. Vou falar sobre isto aqui:


Ah, o livro foi traduzido por mim, com muito orgulho!

domingo, outubro 11, 2009

O que se pode encontrar no Brasil

Para quem gosta de quadrinhos alemães e está interessado em ler uma entrevista... bem, no mínimo, inusitada... recomendo esta aqui, do portal Alemanja, com Ralf König.

Ele inclusive cita o Brasil, de um jeito que poucos esperariam...

Bueno, para entender todo esse mistério que faço, melhor ler!

Preciosidade

Felipe Muanis, pesquisador de Jornalismo em Quadrinhos, enviou o texto abaixo via grupo de discussão na internet. Gentilmente, Muanis permitiu que eu republicasse aqui no cabruuum. Trata-se de uma preciosidade. Lá vai!

***

"La bête est mort: la guerre mondiale chez les animaux" é um quadrinho de 1944-1945, sobre a 2ª Guerra Mundial. Assim como o "Maus", de Art Spiegelman, as nacionalidades são diferenciadas por tipos de animais: os alemães são lobos, os soviéticos são ursos polares, os americanos são bisões, os franceses são coelhos, os italianos hienas e os ingleses são cachorros - Churchill retratado como buldogue está perfeito!

As páginas, bem coloridas à guache e em formato de prancha, chegaram a ser publicadas no fim da guerra, ainda que em preto e branco, no jornal L'armée française au combat, para depois virarem livro. Composto de duas partes, "Quand la bête est dechainée" e a segunda "Quand la bête est terrassée", o quadrinho foi escrito por Victor Dancette e Jacques Zimmerman, e ilustrado por Calvo, bastante assemelhado ao Tex Avery e influenciado por Walt Disney. Depois de anos sem republicação - fora republicado apenas em 1977 pela Futuropolis -, a Gallimard o fez em 2007, juntando as duas partes da história em um bem editado álbum colorido e com lombada de pano.

Poderiam haver críticas de que a história com animais infantilizaria a força do relato jornalístico, levando-a para o campo da alegoria - e de fato o trabalho foi publicado com o amparo de uma lei francesa de incentivo à publicações para a juventude -, por outro lado um quadrinho de guerra feito entre 1944 e 1945, narrando os acontecimentos com a licença poética utilizada, retrata a percepção do momento. Nesse sentido talvez se justifique o fato dele não explorar, talvez até mesmo pelo público do quadrinho ou por não haver ainda uma percepção do que ocorria de fato, as atrocidades dos campos de concentração, tornados públicos mundialmente no início de 1945. E talvez seja essa, a maior crítica ao trabalho.

Após um distanciamento histórico, o quadrinho francês acaba criando um interessante diálogo com o "Maus" de Art Spiegelman que se complementam, não apenas pela representação utilizando animais, ainda que por caminhos diferentes, em uma referência de ambos à Disney. "Maus" parece um terceiro capítulo de "La bête est mort", centralizando justamente na questão do Holocausto que não tinha sido explorado no trabalho da década de 1940. "Maus" é uma espécie de Lado B, que contrasta em seu preto e branco devastador, adentrando nos Campos de Concentração e em seus dramas e que continuaram a acontecer com seus sobreviventes após a guerra.

Seja como um documento, ou em diálogo com "Maus", "La bête est mort" é um exemplo bastante interessante de um jornalismo em quadrinhos feito há quase setenta anos. É uma pena que seja pouco conhecido. Eu mesmo achei por acaso apenas um exemplar, chafurdando em uma das muitas livrarias parisienses, no ano passado. Mas para quem se interessar, ainda é possível encontrar o álbum na internet. A edição da Gallimard custa em torno de 25 Euros. As edições originais, tratadas já como raridades, chegam a 300 Euros.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Uma gaúcha que (se) saiu (bem) à francesa



Pode acreditar, o desenho aí em cima foi feito por uma artista daqui dos pampas: Ana Luiza Koehler, minha colega do curso de alemão, mas que ilustrou a HQ "Awrah" em francês. Como eu sou um analfabeto nesse idioma (e em muitos outros), só posso admirar os desenhos. Belíssimos aliás.

A breve animação acima foi feita a partir dos desenhos de Ana, para divulgar a obra.

Apesar do sucesso lá fora, Ana é pouco conhecida no mercado gaúcho. Inclusive, quem nos apresentou um para o outro foi o garimpador de talentos escondidos, Marko Ajdaric, do Neorama.

Eis a matéria que saiu na Zero Hora sobre a Ana e mais três outras quadrinistas gaúchas. A pauta foi indicada pelo Marko.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Novo livro de Joe Sacco

Por Vitor Mazon, do Universo HQ:

"Durante o Comica Festival, em Londres, Inglaterra, Joe Sacco deu detalhes sobre o seu mais recente trabalho. Principal nome do jornalismo em quadrinhos, ele também falou sobre sua vida e as HQs em geral." [leia mais]

terça-feira, outubro 06, 2009

Que cartaz (quer dizer, filipeta)! - parte 2





Mais uma aula de fazer cartaz, desta vez perpetrada por Renato Lima, da revista Jukebox. Aliás, nem é um cartaz, mas uma filipeta, frente e verso. Cutuque sobre as imagens para vê-las ampliadas.

Em breve trago detalhes exclusivos sobre o evento!

Que cartaz!


Esse cartaz lindo foi feito pela Adair Gass, do Goethe Institut Porto Alegre. É tão lindo, tão bem feito, que é impossível não querer ler ao lado para saber do que se trata.

Se você também sentir essa necessidade, cutuque com o mouse em cima para ver a imagem ampliada.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Ulisses em quadrinhos

Esta notícia me lembrou aquela famosa frase: "não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez."

Veja se não é pra pensar isso mesmo, cutucando aqui!

Quem me avisou foi o Léo Foletto, mestre em webjornalismo e gestor do BaixaCultura.

quarta-feira, setembro 30, 2009

13 anos de glória

O jovem (aliás, "jovem" é pegar leve: o guri)João Montanaro, sobre quem outro dia comentei aqui neste blog, fez um trabalho de gente grande para a revista Continuum, do Itaú Cultural.

As histórias em quadrinhos dele se encontram no hotsite, que você abre cutucando aqui.

Vale registrar, no mesmo espaço, a enquete feita com crianças. Vale registrar porque fui eu que fiz, claro! Ehehehe.

domingo, setembro 27, 2009

Muita areia pro meu caminhãozinho...

Fujo um pouco do tema quadrinhos por uma boa (e bela) causa: a ucraniana Kseniya Simonova fazendo maravilhas com areia...



Dizer que é de chorar, não é exagero. Basta ver a reação da platéia...

quarta-feira, setembro 23, 2009

Como usar um bom release pra fazer uma boa matéria

Qualquer pessoa que já tenha enviado releases à imprensa, sabe como o texto pode sofrer graus de distorções dos mais variados, conforme o jornalista e o veículo que o recebem, a ponto de sairem informações incorretas.

Quando se recebe um release, das duas uma:

1) ou o jornalista dá o release tal e qual chegou, apenas corrigindo possíveis erros do release, se houver (esse procedimento não é aconselhável, mas é "menos pior" do que modificar acrescentando erros)

2) ou, pelo manual do jornalisticamente correto, usa o release apenas como ponto de partida para uma apuração própria.

Sou obrigado a destacar o jornalista Gabriel Rocha, do Diário Catarinense, como um desses bons exemplos do segundo caso. Dá só uma olhada no texto que ele publicou!

Trata-se de uma matéria sóbria, com as informações corretas. Mas o que mais me fascinou foram os achados. Primeiro, a existência de uma HQ anterior sobre Cash, um gibi (aliás, "Johnny Cash - uma biografia" é um livro, não uma revista!). Segundo, um livro de tiragem limitada com gravuras sobre o ícone estadunidense.

Parabéns ao Gabriel Rocha, que se mostrou um ótimo profissional com essas matérias.

No mais, aproveito a oportunidade para divulgar mais uma vez a oficina de quadrinhos de não-ficção no Goethe Institut Porto Alegre, com o quadrinista Reinhard Kleist. As inscrições vão até dia 1º de outubro.



sexta-feira, setembro 18, 2009

OFICINA DE QUADRINHOS DE NÃO-FICÇÃO NO GOETHE INSTITUT PORTO ALEGRE

O Goethe Institut Porto Alegre abre inscrições para a oficina "Como realizar um projeto de não-ficção em quadrinhos", com o quadrinhista alemão Reinhard Kleist. O autor falará sobre sua experiência fazendo biografias: pesquisa, criação de roteiro, problemas que ocorrem no processo, etc.

O oficineiro
Reinhard Kleist nasceu em 1970, em Colônia, na Alemanha. Estudou Artes Gráficas e Design em Münster. Publicou diversos livros ficcionais de quadrinhos, recebendo já em sua estréia, em 1994, o prêmio Max und Moritz, maior premiação de quadrinhos da Alemanha. Em 2006, publicou "Cash - I see a darkness", uma biografia em quadrinhos do músico estadunidense Johnny Cash. O livro ganhou o prêmio Max und Moritz, já foi traduzido para francês, espanhol e italiano e está sendo lançado em português pela editora 8Inverso. Em 2008, Kleist viveu um mês em Cuba. Dessa experiência surgiu o livro "Havana - uma viagem cubana". O autor trabalha ainda na biografia em quadrinhos de Fidel Castro. Outras informações sobre Reinhard Kleist estão disponíveis no link www.goethe.de/kue/lit/prj/com/cfc/cfk/ptindex.htm ou na página pessoal do autor - www.reinhard-kleist.de.

Quando
dia 20 de outubro de 2009, terça-feira, das 9h ao meio-dia.

Onde
no Goethe Institut Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112).

Pré-requisitos
Estão disponíveis 15 vagas. Podem se inscrever quadrinistas, ilustradores, roteiristas e outros profissionais dos quadrinhos. A oficina será ministrada em inglês, portanto é requisito fundamental a fluência no idioma.

Inscrição
Os interessados devem enviar, até o dia 1º de outubro, uma carta descrevendo os interesses na oficina, juntamente com portifólio e/ou currículo, para o email adair.gass@portoalegre.goethe.org, com cópia para augusto.paim@gmail.com. Colocar "inscrição oficina" como assunto. Junto deve haver uma declaração pessoal de fluência em inglês.

Dúvidas podem ser encaminhadas para os mesmos emails.

Prazos
Os nomes dos selecionados serão divulgados no dia 09 de outubro no site do Goethe. A efetivação da matrícula na oficina será nos dias 13 e 14 de outubro, mediante o pagamento de taxa no valor de R$ 20,00 (vinte reais) por participante. O pagamento deverá ser feito na sede do instituto.

Caso algum selecionado não efetue o pagamento nesses dias, a vaga será automaticamente transferida para os candidatos em lista de espera. 

"JOHNNY CASH - UMA BIOGRAFIA"

Pois então, fez-se o título. O título em português, portanto, é esse que dá titulo ao post.

Papo de doido esse meu? Não, você já entende com o release abaixo, de autoria de Robertson Frizero:

***

Biografia em quadrinhos de Johnny Cash é publicada no Brasil em outubro



"CASH - I SEE A DARKNESS", biografia em quadrinhos do compositor e cantor norte-americano Johnny Cash, será publicada em outubro de 2009 pela Editora 8INVERSO, de Porto Alegre. A obra do premiado quadrinhista alemão Reinhard Kleist foi publicada pela primeira vez em 2006, ano em que a cinebiografia "Johnny & June" ("Walk The Line", título original) entrou em cartaz nos cinemas de todo o mundo. Naquele mesmo ano, recebeu o prêmio de Melhor Livro de Quadrinhos Alemão na Feira do Livro de Munique. No ano seguinte, em 2007, recebeu a mesma premiação na Feira do Livro de Frankfurt. De lá para cá, ganhou traduções em diversas línguas (espanhol, francês, italiano, grego, croata e inglês) e foi premiada com o Max und Moritz de Melhor Graphic Novel alemã no ano de 2008. Em 2009, a versão em francês, “Cash – Une Vie”, recebeu o “Les prix des ados” no Festival Literário de Deauville, na França. Kleist recentemente foi também indicado ao Prêmio Sondermann 2009 de Melhor Graphic Novel Alemã por seu diário de viagem “Havana”



Em “CASH – I SEE A DARKNESS”, o quadrinhista retratou em sua obra um lado mais obscuro do cantor, que ficou um pouco deslocado na versão hollywoodiana de sua biografia, não deixando de lado seus sucessos ou fracassos, os problemas com a bebida e as drogas e sua inspiração para compor canções até hoje cultuadas por um público fiel. O trabalho de Kleist tem sido elogiado pela expressividade das imagens e pela dinâmica quase cinematográfica que imprime ao roteiro, também de sua autoria. Segundo Kleist, sua biografia em quadrinhos do cantor mostra “a vida errante de Cash como um solitário, patriota, um rebelde contra o sistema do music business em uma história escrita de forma a agradar não apenas os fãs do cantor”. A história, contada por um dos detentos da prisão de Folsom – palco de um dos mais famosos espetáculos da carreira de Cash — concentra-se nas décadas de 1950 e 1960, mas é enriquecida com passagens da infância e juventude de Johnny Cash e com recriações visuais de algumas de suas mais famosas canções.

O lançamento de “CASH – I SEE A DARKNESS” no Brasil ocorre no mesmo mês em que o livro será editado nos EUA, terra natal do cantor. A obra teve tradução direta do alemão a cargo do jornalista cultural Augusto Paim, especialista no universo HQ.



O livro tem lançamento previsto para 19 de outubro de 2009, durante um grande evento promovido pelo Goethe Institut Porto Alegre e que contará com a presença do autor Reinhard Kleist em Porto Alegre. Como parte do mesmo evento, haverá uma entrevista ao vivo do quadrinhista alemão com o tradutor Augusto Paim e uma exposição com diversos trabalhos de autoria do artista. Kleist também oferecerá no dia 20 de outubro uma oficina, intitulada "Como Realizar um Projeto de Não-ficção em Quadrinhos". Na oficina, aberta ao público mediante inscrições prévias feitas até 01/10 no Goethe Institut, o autor - que em 2010 lançará na Alemanha uma biografia em quadrinhos de Fidel Castro, seu mais recente trabalho -, falará sobre sua experiência em pesquisa e criação de roteiros para seus livros biográficos em HQ.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Música e quadrinhos...

Você é fã de Johnny Cash? Gostaria de ler sobre a vida dele no formato de quadrinhos?


Em outubro, a página abaixo e outras 223 terão texto em português, com tradução direto do alemão feita por este que vos escreve. O livro sairá aqui no Brasil pela Editora 8INVERSO, no mesmo mês do lançamento da tradução para o inglês nos Estados Unidos.

Aguarde novidades em breve.

segunda-feira, setembro 07, 2009

Para os barackeiros...


Se você gosta mesmo do presidente dos Estados Unidos, deve manjar de inglês também. Se for o caso, cutuque aqui e acolá pra ter mais informações.

domingo, agosto 30, 2009

Pior entrevista com o melhor articulista

Como prometido, publico aqui a entrevista que fiz com Rogério de Campos, vencedor do troféu HQ Mix deste ano na categoria Melhor Articulista.

Infelizmente, a entrevista foi feita por email. E isto não é um mea-culpa. O blog não dá dinheiro e eu não teria como pagar uma passagem aérea. Sou movido pela boa intenção, mas a boa intenção não me leva de graça aonde eu quiser.

De qualquer forma, as respostas foram bem interessantes!

***

Qual tua formação? Em que lugares já trabalhou? Onde está trabalhando agora?

Antes de ser editor e jornalista, fui uma pessoa útil à sociedade. Trabalhei, por exemplo, colhendo amendoim. Na época, cada um carregava um balaio, retirava o pé de amendoim da terra, dava uma chacoalhada para tirar o excesso de terra e depois batia a raiz dentro do balaio para deixar os amendoins. O sol era desgraçado. Também trabalhei preparando mudas de café. Trabalhei como assistente de pedreiro, carregando carrinhos de terra, tijolos e coisa e tal. E fui um ótimo cortador de frios em supermercado. Então fiz desenho de arquitetura no Senai. Trabalhei um tempo com isso, depois desenhista gráfico e aí minha vida degringolou: virei jornalista, trabalhei em vários jornais e revistas, entre elas a Folha de São Paulo, a Bizz e Set. Criei e editei várias revistas, como a Animal, a Ding Ling, a General. Ganhei alguns prêmios, como editor e como jornalista. E tive uma banda de rock, que teve um disco lançado pela Warner em meados dos anos 80.

Como você foi parar nos quadrinhos? Foi uma decisão ou caiu de pára-quedas? (Tu é quadrinista também?)

Eu queria ser quadrinista, mas depois que virei editor de quadrinhos meu sonho se acabou de vergonha na cara. Sou resultado daquele espírito 68/77: rock, esquerdismo e quadrinhos.

Você acha que o jornalismo de quadrinhos ocupa a devida importância dentro do jornalismo cultural? Você vê falta de informação ou banalização do tema quadrinhos quando surge uma pauta dessas na mídia não-especializada?

Acho que isso foi uma questão. Hoje, com a Internet, tal coisa é uma reclamação velha. Mas os quadrinhos talvez sejam a linguagem artística que mais usufruiu da rede de comunicação digital. Os artistas puderam expor seu trabalho alí, os fãs montaram seus blogs, os fãs mais profissionais montaram seus sites. E isso é uma prova de que havia uma demanda reprimida, não atendida pela grande imprensa cultural.

Há tanto tempo trabalhando com quadrinhos, você vê problemas decorrentes da profissão? Digo, por exemplo, a questão da imagem do profissional de quadrinhos. Para muitas pessoas, esse nem é considerado um trabalho sério, já que quadrinhos está popularmente ligado a entretenimento. O jornalista de quadrinhos, como fica no meio disso? É possível ter seu trabalho (que é sério, ligado a pesquisa, apuração, investigação) valorizado num meio comumente ligado ao entretimento?

Um dos problemas dos quadrinhos é que sendo tão desvalorizados como são, afastam um monte de gente talentosa e sabida, e atraem um monte de sujeitos que não têm nada a dizer, porque estes sabem que ali não serão cobrados como em mundos mais competitivos.

E o lado bom de trabalhar com quadrinhos?

Até agora era de saber que bastava um olho para ser rei.

Uma pergunta que me interessa especialmente: sendo jornalista e trabalhando com quadrinhos, tu já pensou em fazer Jornalismo EM Quadrinhos? Já teve ou pretende ter experiências do tipo?

Sim, de vez em quando penso em fazer um voto de silêncio que só seria rompido na medida em que eu conseguisse me expressar com desenhos. Mas a falastronice sempre me vence.

Pato (?) Donald


Novamente, foi o amigo Beto Frizero quem me avisou sobre este post falando de uma versão das personagens Disney desenhadas com forma humana. Vale a pena cutucar no link!

sexta-feira, agosto 28, 2009

Katrina

A revista Newsweek divulgou uma história em quadrinho sobre o furacão Katrina. Eis o link (em inglês).

Quem me avisou foi o amigo Beto Frizero.

terça-feira, agosto 25, 2009

Melhor artigo do melhor articulista

A premiação da edição mais recente do Troféu HQ Mix aconteceu semana passada, em São Paulo. Um dos laureados foi o jornalista Rogério de Campos, na categoria Melhor Articulista. Ele se saiu vencedor com a nota que escreveu para a edição brasileira do livro "Che".

Campos e a editora Conrad gentilmente cederam o texto para publicação aqui no cabruuum. Ele segue abaixo, em versão integral. Nos próximos dias, publico a entrevista que fiz com o autor.

***

Nota da Edição Brasileira

Rogério de Campos

Demos um sumiço nele, por ter feito a mais bela história do Che que já foi escrita”, confessa o militar argentino para o jornalista e escritor italiano Alberto Ongaro, que tenta saber o que aconteceu com Héctor Germán Oesterheld. A frase parece um pouco irreal, mas temos que compreender que foi dita no ano de 1979. E a Argentina daquele momento parece irreal, como um pesadelo.

O período é cheio de outras frases tão sinistras que parecem igualmente irreais. Como esta, famosa, do general Ibérico Saint Jean: “Primeiro mata-remos os subversivos, depois seus colaboradores e então os que continuam indiferentes, até, finalmente, matarmos os tímidos”. O general disse isso em 1977, quando era governador de Buenos Aires, nomeado pela junta militar que governava o país. Foi durante a gestão de Ibérico Saint Jean que aconteceu o episódio que ficou conhecido como Noche de los Lápices: o seqüestro, pela polícia da capital, de dez adolescentes – quatro meninas e seis meninos. Só quatro deles sobreviveram às brutais sessões de tortura. Que alguns jovens tenham decidido também “pegar em armas” contra essa situação é algo lamentável e que demonstra falta de sabedoria, mas é assim uma decisão tão inexplicável?

Foi também em 1977 que Oesterheld tornou-se um “desaparecido”. Ele e suas quatro filhas – Marina (18 anos), Beatriz (19), Diana (23) e Estela (24) – estão entre os 30 mil argentinos que, segundo o cínico general ditador Jorge Videla, “não estão vivos nem mortos; estão desaparecidos”.

Videla e seus pares ditadores latino-americanos inspiraram-se nas aulas da famosa Escola das Américas a respeito da eficiência do Nacht und Nebel Erlass (Decreto da Noite e Névoa), de Hitler, que estipulava detenções secretas de acusados de fazer parte da resistência antinazista. Essa prática permite o “desaparecimento dos suspeitos sem deixar rastro, e sem que circule qualquer informação a respeito de seu paradeiro ou destino”. As pessoas desaparecem na névoa e na noite. O Estado prende, mas não assume que prendeu, assim as famílias não têm como entrar com ações legais de defesa. Mesmo “a entrega do corpo para seu enterro no lugar de origem não é aconselhável”, recomendam os mestres nazistas, “porque o momento do enterro poderá ser usado para manifestações”. O objetivo era fazer com que “toda resistência seja castigada, não dentro de um processo legal, mas através da disseminação de tal terror […] até que toda a disposição de resistência entre o povo seja eliminada”.

Os generais falam muito de defesa da pátria, mas da pátria mesmo pa-recem gostar apenas das bandeiras, dos hinos, dos uniformes e das linhas das fronteiras. O povo, em especial os jovens, artistas, escritores, pensadores, professores e estudantes, é tratado como um mal necessário, às vezes desne-cessário. De outro modo, pessoas como Oesterheld e Alberto Breccia seriam desde sempre motivo de grande orgulho pátrio. Afinal, Breccia não é apenas o maior desenhista da história dos quadrinhos latino-americanos: é presença obrigatória em qualquer lista sensata dos principais nomes da história da HQ mundial. “A história dos quadrinhos é dividida em duas épocas: aquela que vem antes de Alberto Breccia e aquela que vem depois de Alberto Breccia”, diz Frank Miller, que tenta até hoje aprender o domínio de branco e preto das páginas do mestre argentino.

Oesterheld também é muito mais que o maior roteirista da história da HQ argentina ou latino-americana. É o primeiro grande roteirista dos qua-drinhos mundiais, o primeiro a perceber as possibilidades dos quadrinhos como uma espécie de nova literatura. Não é à toa que, em 2000, quando o jornal Clarín lançou sua coleção La Biblioteca Argentina, com os grandes clássicos da literatura do país, incluiu El Eternauta (uma HQ escrita por Oesterheld e ilustrada por Francisco Solano López, descendente do caudilho paraguaio), ao lado de Martín Fierro e de livros de Borges, Sábato e Cortázar. E isso não soa como uma intrusão indevida. El Eternauta é uma daquelas obras que formaram a imaginação de várias gerações de argentinos. Borges, aliás, era amigo de Oesterheld, que um dia garantiu: “Ele também gostaria de escrever roteiros de quadrinhos”.

Juntos, Oesterheld e Breccia lideraram um movimento que no fim dos anos 50 transformou a Argentina no mais interessante centro de produção de quadrinhos do Ocidente, cujo impacto ultrapassou as fronteiras do país. Foi depois de um “estágio” de alguns anos trabalhando com Oesterheld na Argentina que Pratt partiu para a Europa e criou a série Corto Maltese, que revolucionou o mundo dos quadrinhos europeus e tornou-se uma das principais referências para o surgimento do quadrinho autoral no Velho Continente. Pratt dizia que Oesterheld foi sua maior influência na técnica narrativa, e que criara o herói Ernie Pike à imagem do roteirista.

Os anos 60 são conhecidos como o momento em que a HQ argentina entra em crise e inicia sua decadência. Mas que bela decadência! É, por exemplo, quando surge a Mafalda, de Quino, e Mort Cinder, outra das criações da dupla Oesterheld e Breccia, listada freqüentemente como a melhor HQ latino-americana de todos os tempos. Por isso, o escritor e roteirista Carlos Trillo descreve essa época como “um luxuoso funeral”.E em janeiro de 1968 surge este La Vida del Che, apenas três meses depois da morte do guerrilheiro. É algo feito no calor do momento. Os desenhos são de Alberto Breccia e seu filho Enrique, que tem apenas 22 anos e faz uma estréia espetacular.

Em entrevista a Jan Baetens, realizada em 1992 em Bruxelas, Alberto afirma: “Che é, sem dúvida nenhuma, o mais bem construído e o mais coletivo dos meus álbuns. Junto com o roteirista Héctor Oesterheld e com meu filho Enrique, que realizava seu primeiro trabalho, queríamos contar a história de uma figura que, pelo menos na época, talvez hoje nem seja mais o caso, era quem melhor representava a América do Sul. Em Che, nos esforçamos para resumir da maneira mais clara possível a vida e o significado de Guevara, a fim de transmiti-los às futuras gerações. Assim que foi lançado, em 1968, o livro fez um enorme sucesso. No dia do lançamento, todos os muros de Buenos Aires estavam cobertos de cartazes”.

Em pouco tempo, o álbum atingiu a marca de dezenas de milhares de exemplares vendidos. Para alguns historiadores, essa HQ teve um papel impor-tantíssimo na consolidação da imagem de Che como um herói na Argentina. O jornal La Nación chegou a publicar um editorial advertindo sobre o perigo que tal obra significava para a paz da nação.

Seu efeito é tão poderoso que os autores recebem um telefonema da embaixada norte-americana: querem encomendar uma HQ do mesmo tipo sobre Kennedy. No way, gringo!

Mas o sucesso da obra foi também a desgraça de Oesterheld. A Argentina já vivia sob uma ditadura militar naquele momento, comandada pelo general Onganía. O editor Jorge Alvarez até tentara convencer seus autores a publicar a obra anonimamente, mas Oesterheld resistiu: “A história de um persona-gem como Che não merece ser feita às escondidas”. E, além do mais, como disfarçar o traço de Breccia? Então começam as perseguições. A editora é invadida, o estoque e os originais são confiscados e destruídos.

Depois de Onganía, entra em cena outro general ditador: Marcelo Levings-ton. E, na seqüência, outro: Alejandro Lanusse. Em 1973, a esperança ressurge no país, com a volta de Perón, depois de quase vinte anos de exílio. Oesterheld, outrora crítico do caudilho, envolve-se mais e mais com a ala de extrema-esquerda do peronismo, junto com as filhas. Mas as esperanças se frustram: Perón se cerca de direitistas e, ao morrer, um ano depois, deixa a presidência nas mãos da viúva, Isabelita Perón, que leva o governo ainda mais para a direita, a ponto de criar a força parapolicial Alianza Anticomunista Argentina, encarregada de seqüestrar, torturar e assassinar líderes da esquerda do país.

A circulação do álbum Che é proibida. As pessoas destroem os exemplares que têm em casa, por medo da repressão. A família Breccia recebe diversas ameaças. Em março de 1976, a situação piora ainda mais: Isabelita cai e é instaurada a nova ditadura militar, decidida a limpar a Argentina de qualquer coisa que tenha alguma ligação com a esquerda. O governo norte-americano, através de seu secretário Henry Kissinger, dá seu apoio e um conselho: “ajam rápido”. O que acontece depois disso é um massacre.

A primeira a “desaparecer” foi Beatriz Marta Oesterheld, em junho de 1976. Diana Irene Oesterheld Araldi desaparece em julho do mesmo ano. Estava grávida de seis meses. Seu marido, Raul Carlos Araldi, também desaparece. Oesterheld é seqüestrado pela repressão em 27 de abril de 1977. Em novembro, Marina Oesterheld também desaparece, ao lado do marido, Oscar Alberto Seindlis. Ela estava grávida de oito meses. Por fim, em dezembro, desaparece Estela Inés Oesterheld, a última filha, junto com seu marido, Raúl Oscar Mortola.Do destino de Oesterheld na prisão restam os flashes de memória de outros prisioneiros. Alguém lembra de seu desespero quando algum sádico faz chegar a ele fotos das quatro filhas, torturadas e mortas.

No dia 14 de dezembro de 1977, avisam a Oesterheld que ele tem uma “visita especial”. Um menino de três anos, seu neto Martín, filho de Estela, que acabara de ser morta. Sabe-se lá por qual louca razão, alguém resolveu reunir neto e avô na prisão. Hoje, Martín lembra-se apenas de ficar horas e horas com o avô, naquele “corredor horrível, com paredes pintadas de azul látex brilhante”. De alguma maneira, Oesterheld conseguiu fazer com que o neto fosse encaminhado para os bisavós maternos.

A outra coisa que dizem é que, mesmo na prisão, Oesterheld continuava a escrever. Histórias que nunca conheceremos. Presume-se que tenha sido assassinado em 1978. Martín e Elsa, viúva de Héctor, ficaram sendo assim os únicos sobreviventes da família. Os filhos de Marina e Diana fazem parte da lista de desaparecidos. Apesar das ligações de Oesterheld e de suas filhas com a esquerda peronista, Elsa acredita que Héctor já estava marcado desde 1968, ano da publicação de La Vida del Che.

A brutalidade inominável com que a família Oesterheld foi quase exter-minada faz algumas pessoas aventarem que haveria na fúria militar um elemento a mais: o anti-semitismo. Não teria, certa vez, aparecido um oficial na casa de Elsa à caça de “Héctor, o judeu”? Hinos nazistas eram ouvidos durante sessões de tortura. E algumas salas de interrogatório tinham o retrato de Hitler na parede. Quem sabe aonde pode chegar a estupidez militarista?

Mas a história de Oesterheld não é, infelizmente, uma exceção no registro de horrores praticados pela ditadura militar argentina. Uma idéia insana de purificação do país moveu os detentores do poder a tal estado de espírito que não bastava proibir livros e fechar revistas. Era preciso matar os opositores, e mais: eliminar o ambiente que os havia gerado, incluindo aí parentes, amigos, professores e alunos. “Da mesma forma que destruímos com o fogo a documentação perniciosa que afeta o intelecto e nosso modo de vida cristão”, disse o general Luciano Menéndez, “serão destruídos os inimigos da alma argentina.”

E o general Menéndez fez sua parte: matou à vontade, além de organizar, em 26 de abril de 1976, a maior fogueira de livros já vista no país. No entanto, não foi o bastante. Ele acabou derrotado. A Argentina de Oesterheld sobreviveu.

Alberto Breccia sobreviveu para se vingar como só os grandes artistas sabem: com uma maravilhosa HQ, Perramus, na qual ele e o escritor Juan Sasturain fazem seu balanço da ditadura militar. Além de Enrique, suas outras filhas, Patricia e Cristina, também se tornaram quadrinistas. Alberto Breccia morreu em 10 de novembro de 1993, já reconhecido como um herói da cultura argentina. Ainda que reclamasse que os “bons tempos” da HQ de seu país já haviam terminado, pôde ver o surgimento de revistas como a Fierro (considerada freqüentemente a melhor revista de quadrinhos do Ocidente) e de novos quadrinistas como Muñoz, Sampayo, Fontanarrosa, Carlos Nine, Carlos Trillo, Ricardo Barreiro, Eduardo Risso e tantos outros que continuam a fazer da HQ argentina uma das mais fascinantes do mundo.

Até onde sabemos, esta é a primeira vez que uma HQ escrita por Oesterheld é publicada no Brasil. Por isso, esperamos que esta edição de Che sirva para ajudar a reparar a injustiça que tem sido cometida não contra Oesterheld e os Breccia, mas contra os leitores brasileiros, mantidos no desconhecimento deste tesouro que são os quadrinhos argentinos.