segunda-feira, novembro 27, 2006

UM ANO d.C. (Lê-se um ano depois do Cabruuum)

Conforme prometido no antepenúltimo post (mexa a barra de rolagem aí do lado, me nego a botar link pra um post tão próximo), eis o texto comemorativo ao primeiro ano dos quatro blogs do Laboratório de Jornalismo Cultural do Itaú Cultural que vingaram. Não deixe de visitar os demais blogs. O Léo Lopes, dono do Mascando Clichê, foi quem escreveu o primor de texto aí embaixo, que definitivamente o CABRUUUM não merece. Eu postei no Calíope, blog da minha amiga Elisa Andrade Buzzo, que postou no ArTorpedo do outro amigão Anderson Ribeiro, que, fechando o círculo (apesar de estar emagrecendo) postou no blog do Léo. Perca-se nesse emaranhado de posts e links. É hipertexto puro, no seu estado bruto na natureza!

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UM ANO d.C. (Lê-se um ano depois do Cabruuum)
Por Leandro Lopes

“Eu coloquei você como luz para os outros povos, a fim de que você leve a salvação ao mundo inteiro”

Do Itaú nasceu Isaque; a Isaque nasceu Jacó; a Jacó nasceram Judá e seus irmãos; a Judá nasceram, de Tamar, Farés e Zará; a Farés nasceu Nasom; a Nasom, depois das ruínas pós-guerras Guaraníticas, nasceu Josias; a Josias nasceram Jeconias e seus irmãos, no tempo da deportação para o bipartidarismo; a Jeconias, logo depois dos varais de roupas brancas aos farrapos de uma revolução contra os imperiais, nasceu Pessolano; a Pessolano nasceu Augustóteles; a Augustóteles, momentos depois do encontro calorosamente garoante, nasceu o Cabruuum, neto dos Pains e Machados, afilhado dos Do Vale e das Borgheses; sobrinho dos Tavares, Guimarães, Leite, Canashiro, Thomaz e Buzzo, de São Paulo; dos Serezuella e Franzini do Paraná; dos Almeidas goianos e dos Ribeiros mineiros; dos Ribeiros e Lopes das terras sergipanas; dos Falcões de Pernambuco e dos Cunhas maranhenses.

A história ali se dividia. As onomatopéias não seriam mais as mesmas. No calendário ultrapassado faltava pouco para a caneta penetrante rabiscar os algarismos entendidos socialmente no ocidente como vinte e um, do mês quente intitulado novembro de um ano já desconhecido e inutilizado pelos livros de história: 2005. Aquele que ameaça as vidas longas estava chegando e deixava o céu avermelhado. No presépio tecnológico, o ainda tímido Augustóteles descobria o juvenil ardor e sentia o cheiro excitante do velho papel em contraste com o frio virtual do teclado. O aroma das páginas amareladas lhe penetrava as narinas e lhe trazia boas lembranças do colecionador de quadrinhos de outrora. Era um ungüento inspirador. Ele precisa mesmo de um entusiasmo criador para vencer os medos da primeira vez.

Lá estava ele. Confortavelmente sentado e com seus claros cabelos inertes já que os ventos soprantes tomaram o rumo do oriente que amanhecia, quando ali, o avermelhado céu ganhava as trevas. A cada instante as pilhas de HQs ganhavam cores. A cada toque suave, uma letra gestante surgia e um pisca-pisca vertical anunciava o desejo incontrolável do ato. No abrolho, a idéia estava pronta, aquele primeiro pergaminho falava exatamente da dificuldade de nomear o que estava sendo moldado. Concebeu-se. Nascia assim Cabruuum da nossa Santa Maria do sul-rio-grandense.

Eis então que vieram de outros rios uns magos que perguntavam: onde está aquele que é nascido de Augustóteles e dará como grande transmissor de conhecimento dos quadrinhos? Pois de outros cantos vimos a sua estrela e viemos adorá-lo. O rei de Israel, lá do vale neto, ouvindo isso, perturbou-se em felicidade desconcertante, e como ele todos os rumorosos. Reuniram-se assim virtualmente para doar-lhe o maior de todos os tesouros: os parabéns. Os magos sabiam da capacidade daquele prodígio espaço glocal, calculando-a pelo sangue de sua geração. De sorte que de todos os nascidos, desde Itaú até Cabruuum, são dez o número das gerações.

Desde 2005, quando o mundo reiniciou a contagem dos anos, foram mais de uma centena de saborosos descendentes posts encorpados em palavras, ilustrações e fotos. É assim que vejo o filho premiado da geração rumorosa brasileira no seu aniversário: um blog (redondinho que fala de quadrinhos) concebido por um gênio das palavras simples: Augusto Paim. Numa época geradora de mais três genuínos filhos que também apagam suas velas hoje: artorpedo, calíope e mascando clichê, o mundo precisa reescrever seus calendários. Agora, de tão importante e merecedor, veremos o mundo com um ano d.C. – ou seja, recomecem os números, trata-se de um ano Depois do Cabruuum.

domingo, novembro 26, 2006

A saudade é azul-preto-e-branco

Se o diretor polonês Krzysztof Kieslowski tivesse feito um novo filme da Trilogia das Cores, certamente o nome seria o título desse post. Obviamente, aí se tornaria uma tetralogia, se é que isso existe. Mas seria um filme especial, com três cores em vez de uma só.

Mas bueno, ou melhor, Eduardo Bueno foi quem fez isso. Ontem a noite eu estava assistindo ao "Inacreditável", documentário roteirizado por ele. Enquanto assistia, eu sentia arrepios no pêlo.

Você não está entendendo bem do que se trata? Bem, hoje faz exatamente um ano que escrevi este post aqui no CABRUUUM:


Assim como na ocasião daquele post, o assunto de hoje tem pouco ou nada a ver com quadrinhos. Mas é impossível ignorar o fato. Um ano depois, o Grêmio volta a campo para tentar garantir uma vaga na Libertadores 2007. Um ano depois de um milagre!

O Grêmio pode até perder em casa pro Flamengo hoje. Não importa. A comemoração está garantida. Principalmente neste post saudosista, que não é amarelo-sépia nem preto-e-branco, mas sim AZUL-PRETO-E-BRANCO!

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Ps.: GRÊMIO 3 x 0 Flamengo!!!

sábado, novembro 25, 2006

Um release especial...

Frutos do Itaú Cultural
BLOGS NASCIDOS NO RUMOS JORNALISMO CULTURAL COMEMORAM UM ANO

Por Leandro Lopes

Em novembro de 2005, 14 estudantes de jornalismo de nove Estados brasileiros chegavam na reta final do Laboratório Multimídia Rumos Jornalismo Cultural, promovido pelo Itaú Cultural. No decorrer daquele ano, os jovens futuros jornalistas passaram por uma experiência bem diferente da vivida nas salas de aula das universidades. Por meio de encontros virtuais, sob orientação do jornalista Israel do Vale, os estudantes debatiam livros, entrevistavam escritores, escreviam reportagens e minibiografias. Tudo pautado a um tema específico escolhido mensalmente.

Depois de aprofundarem conhecimentos em assuntos como identidade cultural, incentivo à leitura, tradição e sincretismo, dentre outros temas, os rumorosos (como eram chamados), tiveram como última pauta ‘tecnologia e arte’. Um dos exercícios era a concepção de um espaço na internet para publicação de idéias sobre um tema específico escolhido por cada um dos participantes. Nasceram assim 14 blogs e 14 novos blogueiros focando assuntos como políticas culturais, cinema, poesia, literatura, fotografia.

Hoje, um ano depois, quatro dos mais de uma dúzia de blogs resistem e festejam aniversário. Os ex-participantes do Rumos que insistiram na empreitada decidiram criativamente comemorar o feito por meio de uma espécie de rodízio onde cada blogueiro postará na página alheia. Sem pautas pré-definidas, os ditos proprietários e seus internautas fiéis terão uma surpresa ao abrir o seu blog. No ArTorpedo, o texto da vez é de Elisa Andrade Buzzo; no Calíope, quem escreve é Augusto M. Paim; no CABRUUUM as palavras ficam por conta de Leandro Lopes; no Mascando Clichê, a voz da vez é de Anderson Ribeiro.

Não adianta roer as unhas de ansiedade. O melhor a fazer é esperar calmamente e acessar os blogs nos primeiros minutos de segunda-feira. Desde já os blogueiros avisam: “não nos responsabilizamos por congestionamentos nas páginas”.

Boa visita!

sexta-feira, novembro 24, 2006

"Arghhhhh" News

Este era pra ser um post-retrospectiva, já que o CABRUUUM completou um ano de existência na terça-feira, dia 21. Mas como a surpresa ainda vai acontecer, publico agora notícias que estavam atrasadas.

(Ps.: você não vai ler aqui aquela famosíssima e ordinária frase da publicidade de baixo nível: "Nós estamos de aniversário, mas quem ganha o presente é você". Ora, eu é que quero uma lembrancinha. Nem que seja um comentario...)

Amanhã vai rolar a festa, vai rolar...
Quem mora no Rio tem duas opções de festa amanhã. As duas são promovidas pela revista de HQ Jukebox. Tentei postar os cartazes aqui, mas não deu certo. Então, cutuque neste link, que vai te conduzir que nem bêbado para o fotolog da revista, onde estão os ditos cujos..

Namoro na academia
Sei que você não gosta de ler trabalhos acadêmicos, principalmente monografias. Mas esta tese de doutorado pode interessar. Quem enviou o e-mail abaixo foi o cartunista Leandro Bierhals, vulgo Hals. Lá vai:

Gostaria de registrar, e compartilhar com vocês, o trabalho da minha namorada, Maria Cristina Merlo. Ela é pesquisadora em quadrinhos e defendeu tese na USP, baseando seu trabalho na revista O Tico-Tico. Tive o prazer de ver o trabalho na íntegra e posso afirmar, é fabuloso. Ela analisou quase que a totalidade da publicação (acho que ficaram faltando poucos números), catalogando dados que vão desde o conteúdo das seções (que inclui até o registro de erros de impressão), bem como um panorama de todos os artistas que participaram dessa publicação desde o primeiro número. Fora a tese, propriamente dita, o material recolhido é suficiente para gerar muitos outros trabalhos envolvendo essa publicação. A tese será publicada em livro brevemente. Segue abaixo uma matéria sobre esse trabalho publicada, originalmente, no endereço www.historia.quadro.a.quadro.zip.net!

Criança esperança
O nome do ilustrador cujo site me foi passado é Renato Alarcão - não confundir com o trapalhão Renato Aragão, vulgo Didi Mocó. Dê uma visitada na página dele. É fascinante. Inclusive, há trabalhos pra crianças, que são um duplo twist carpado perto das cambalhotas do Didi. Só pra ter uma referência, o Alarcão já ilustrou obras escritas pela reconhecidíssima autora de livros infantis Ana Maria Machado...

Jornalismo em Quadrinhos, mas não na Veja
Eu ia encaminhar você para olhar a reportagem do dia 7/11 do Blog dos Quadrinhos. Lá conta bem detalhada uma encrenca entre o cartunista Santiago (que não quer entrar em encrenca, mas não tinha outra coisa a fazer nesse caso) e a revista Veja, que pubicou uma charge sua sem autorização, embora tenha pedido a autorização e tenha recebido um não santiaguense.

Mas bueno, eu ia encaminhar você somente pra essa matéria, que está completinha, completinha, mas já aproveito e sugiro que você olhe o post do dia 8/11, intitulado "'O Fotógrafo': álbum faz jornalismo em quadrinhos". Que jóia! Pena que não dá para postar os links direto para os posts. Você vai ter que passar um trabalhão e ir lá procurar...

O prêmio de Sophia
O quadrinista Roberto Hunger, com fome de prêmios, mandou uma tira da sua personagem Sophia Pangota para o Animasserra, o 1° Festival Nacional de Cinema de Animação, Quadrinhos e Games da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. A tira tirou o 2º lugar na categoria Animatiras.

O bacana é que o prêmio marca uma evolução na divulgação da Sophia. Antes, as histórias da personagem eram publicadas somente no orkut, num perfil criado especialmente para ela pelo Hunger. Hoje, as tiras saem também pelo site Estivanet. E premiadas, ainda por cima!

Cartunista Ziraldo rouba doce de criança
Se a notícia acima fosse verdadeira, já chocaria! Imagina esta, então, que é real, embora não se saiba se é verdadeira ainda!

Notícia sem título (faltou criatividade)
Foi lançada ontem a revista Bagazine. E o que é isso? Bueno, basta pôr no passado os verbos do release abaixo:

Uma publicação de queimar os dedos!
Fanzine: Fan, fã = fanático + Zine = magazine: Revista de Fanáticos, traduzindo basicamente. Mas é muito mais, objeto de paixão, comunicação visceral, editar ou ler um fanzine é jamais separar ‘fazer’ de ‘prazer’. Extra rótulos alternativos, a fanzinagem é uma faculdade informal e irrestrita. Fanzineiro é o sujeito que pilota essa nave louca, no fanzine Bagazine, o obstinado em questão é Sylvio Ayala, jornalista e arte educador, que no dia 23 de novembro faz o lançamento na galeria Grafiteria às 19h, happy hour com música, livraria mambembe e vídeo projeção.


Derrubando fronteiras, o Bagazine faz a costura entre capitais com gaúchos fixos em São Paulo, como o próprio Sylvio Ayala, o cartunista Guazzelli, a artista plástica Marion Velasco, e com paulistas da gema como o quadrinista Tiago Judas e o designer Márcio Koprowski. O fotógrafo carioca honorário Eduardo Monteiro, o grafiteiro goiano de passagem K-Boco, e até o aquarelista chileno Gonzalo Cárcamo fazem parte dessa coletânea porrada de grafistas, poetas e rabiscadores tresloucados.


O tema cidade é recorrente nas páginas, óticas de cantos diversos desse Brasilzão, onde a arte ganha espaço na rua, junto com o olhar aguçado sobre a mídia independente. A entrevista com o falecido Planet Hemp e o vivíssimo B-Negão, mais as reflexões enfumaçadas do personagem Saroba, são a face anti-proibicionista da publicação. Os encartes completam o pacote, adesivos, cartão postal colagem, e o free style do artista plástico grafiteiro Pato (em exposição na Grafiteria).

Na projeção de rua o coletivo Hipnoorder com o vídeo Lost In Hypno Space, no som DJ MZK (latin jazz, afrobeat, mergulhando nos mais variados formatos de groove) e DJ Rikinho (ragga jungle, psicodélico e tribal).


CABRUUUM (não) Entrevista
Claro, quem sou eu pra entrevistar bacanas. Só posso mandar os links pras entrevistas com:

Arnaldo Branco, que já foi assunto neste humilde blog!
Carlos Latuff, que também já foi assunto aqui, pobre coitado!

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E chega por hoje!!!

sábado, novembro 18, 2006

CABRUUUM!!!!!!! - Um dia de fúria

Ei, você aí! Isso mesmo, você que está lendo este blog, não se faça de rogado. Que cara-dura, hein?!

Não dê uma de galinha morta pra andar de camioneta, nem de morto pra andar de ambulância. Você sabe o que fez. Ou, antes, o que não fez.

Mas vamos por partes. O que você fez: você entrou no meu blog e viu o último post, em que botei um pedaço da minha monografia disponível para downoad. Você e uma galera, pois houveram muitos acessos. Quanto a isso, muito obrigado! Mesmo!

Agora, o que você não fez: não deixou aqui um comentariozinho sequer. NE-NHUM!!! Mesmo sabendo que era uma monografia, que em breve, depois que terminá-la, estarei perambulando pelo mundo. E não fazendo jornais, mas sim me tapando com eles.

E você nem comentou? Como? De que jeito? Ou é muito incompreensível o que escrevi, ou é terrivelmente ruim. Sendo otimista do jeito que sou, penso que é uma mistura das duas coisas.

Mas bueno, não sou rancoroso, por isso vou continuar postando neste humilde blog. Também, não tenho escolha. Eu que decidi criá-lo, mesmo. Mas que isso não se repita, ok? (Não me retruque. Estou dizendo que não quero que a sua omissão se repita. O blog nunca vai se repetir mesmo!)

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Navegava solitária por listas e mais listas de e-mail uma garrafa com uma mensagem dentro. Eis que a garrafa entrou em mares nunca dantes navegados e veio parar em minhas mãos digitais (toda mão é digital, óbvio). Tirei a rolha e o rótulo de guaraná (a mensagem era do tempo do guaraná com rolha). Dentro, uma papelzinho com um e-mail. Dizia:

www.dinossaurodoamazonas.com.br

Curioso, abri meu laptop num cantinho solitário da ilha deserta e acessei a url em questão. Eis que fui parar no tal do Dinossauro do Amazonas, um espaço multimídia que tem Quadrinhos, Radionovela e Animação. Tudo isso, dizem, para apresentar a região da Amazônia para o resto do país, do mundo e até para alguns seres alienígenas que de vez em quando surgem por aí.

Vá lá visitar, o espaço é bacana. É bem mais legal que monografia. E você ainda pode deixar comentários no blog dos caras!

domingo, novembro 12, 2006

Enchendo o Sacco

Certamento o Joe Sacco, autor da obra de jornalismo em quadrinhos aí embaixo, diria: lá vem esse acadêmico encher! Mas não faz mal. Minha monografia vai ser uma análise semiológica de um trecho da obra dele e ponto final.

Daí que eu decidi colocar um pedaço dela aqui pra ser sabatinado. Contribuições são aceitas, embora não retribuídas, já que estamos em tempos de vacas magras (blog não dá dinheiro) e em vésperas de desemprego (minha formatura é em março). De modo que se você deixar algum comentário, vai ser no melhor estilo Amigos da Universidade.

Bueno, eis o link para você baixar!

O arquivo que você vai ver é o primeiro provável capítulo da minha monografia transformado em artigo. Eu vou apresentá-lo daqui uma ou duas semanas num seminário na UFSM.

Como imagino que vai ser difícil visualisar as imagens do corpus, coloco-as aqui embaixo. Boa leitura (da HQ, não do artigo)!




quinta-feira, novembro 09, 2006

"Conhece o Santiago?"

Como prometido no post anterior, eis a matéria produzida pela minha amiga Thaís durante a Oficina de Jornalismo do Correio do Povo. As fotos - e a gentileza de tê-las cedido - são da Francieli Rebelatto:

Conhece o Santiago?
Histórias e traços do cartunista, que lança seu 13° livro na Feira do Livro de Porto Alegre

por Thaís Brugnara Rosa

Na longa fila, os leitores já esperam: “Tu entra com a lingüiça e eu, a massa”. É nesse tom que o cartunista autografa “Conhece o Mário?” (L&PM, 2006), uma coletânea de empulhas registradas em anos de bares e botecos. “É um manual de auto-ajuda, sou quase um Santiago Coelho”, brinca. Duas horas depois de muitas assinaturas e risadas, Santiago ainda dispõe de bom humor para contar histórias – desde que tenha à mão papel e caneta para ficar rabiscando.

Bang-bang entre xerifes de bombacha
A infância “no Santiago do Boqueirão” foi tranqüila. Os cinco irmãos se divertiam nas visitas à propriedade rural em Itacurubi. Eles não tinham TV, mas iam ao cinema nos domingos assistir aos filmes de faroeste. Das telas para o papel, os caubóis adquiriam características dos gaúchos. “Os chapeludos de revólver falavam com expressões gaudérias”, lembra.

Neltair Abreu passou a ser Santiago quando, aos 19 anos, mudou-se para Porto Alegre. A adaptação foi difícil: “Achei que nunca teria amigos nesta cidade enorme”. Foram três anos em diversos trabalhos; entre eles, desenhar móveis. “Pensava-se que quem desenhava bem ia pra Arquitetura”. E foi o que ele fez. Aprovado na Ufrgs, passou a colaborar com jornais estudantis. Um deles chamava-se Construção. Publicado por estudantes de Engenharia, o periódico foi apreendido pelo Dops em 1973. “Me escondi, mas não chegaram a me procurar. Eu já estava refugiado no nome Santiago.”

O estudante ia bem nas disciplinas mais criativas, mas não era aprovado nas técnicas. “Repeti mais de cinco vezes as matérias de Álgebra e Mecânica”, confessa. Após desistir da faculdade, começou a trabalhar no Jornal da Tarde. No início, era ilustrador; em seguida, fazia charges.

Obras-primas, mesmo com enxaqueca
Do bolso, Santiago tira uma cartela de Neosaldina, analgésico que alivia a dor de cabeça. “Tem dias que tenho enxaqueca e tenho que criar uma coisa engraçada. Mas com que humor?” Uma das saídas utilizadas são alguns truques gráficos. “Pega os quatro dedos do Lula e põe uma coisa que indica mais quatro anos de governo”, exemplifica e admite que a maioria dos bons trabalhos saíram sob pressão.

Para Santiago, a boa piada é a que une humor à crítica. “O humorista não é um bobo da corte.” Nas contribuições para publicações de esquerda e no trabalho diário, ele defende a distribuição de renda: “Sou a favor de um salário mínimo e também de um máximo. Que adianta ter três carros se não se pode usá-los ao mesmo tempo?”.

Lembranças da grande quermesse
Indignado quando o assunto é injustiça social, Santiago sorri ao falar de suas paixões. Ele adora cinema e as conversas de boteco. “A mulher só reclama às vezes, mas chego cedo e não bebo muito. Faz tempo que não me embebedo (risos).

Gosto mesmo é do bate-papo”. Pai de dois filhos, Santiago se diz “bem família”. O chimarrão o acompanha nas horas de leitura das revistas, jornais, biografias e, claro, quadrinhos. “Os americanos publicam em tiras; os europeus, em álbuns. Gosto muito do francês Moebius, um gênio que desenha ficção científica”.

Outra paixão é a Feira do Livro, “uma grande quermesse, sem brindes e sem sorteio”. Das memórias, surgem os passos lentos de Mário Quintana entre as bancas. Colegas na Folha da Tarde, eles se tornaram amigos. Entre um cafezinho e outro, o poeta queria saber a última piada, e o cartunista sempre sabia. Além das rodas de bar, ele lembra dos discursos quando a Feira coincidia com as campanhas eleitorais. Falando em campanha, neste ano, Santiago foi indicado a patrono da Feira – e fez campanha contra! “Não consigo me enxergar como patrono, tem que ser um senhor mais respeitável, com mais de 60”. Então, quem sabe daqui a 4 anos? “Veremos, diria um cego”, responde. Santiago tem que ir. A família o espera. Depois de uma hora de conversa, só mais uma perguntinha:

— Por que, durante a entrevista, não paraste de desenhar robôs?

— Tenho uma compulsão de riscar e os temas saem independentes do meu gosto. Sempre. É uma coisa meio mediúnica.

domingo, novembro 05, 2006

Grande Prêmio de Porto Alegre

Pronto, estou de volta em Santa Maria. Eu e um certificado. Pois é, o CABRUUUM foi premiado na Mostra Competitiva do Set Univeritário, um congresso de Comunicação Social e outras coisitas que aconteceu na PUC de Porto Alegre.

Vale registrar que o prêmio foi realmente merecido. Afinal, o 1° lugar premiou todo um esforço e um tempo dedicado a essa vitória: eu tive que preencher a ficha de inscrição, imprimi-la e enviá-la pelo correio pra Porto Alegre. Isso é tão difícil que só eu consegui fazer. O CABRUUUM foi o único blog inscrito na categoria...

Bom, mas vale pela divulgação!

Quanto ao resultado da minha participação na Oficina de Jornalismo do Correio do Povo... Bem, eu fico devendo a matéria sobre quadrinhos. No fim, acabei escrevendo sobre teatro de bonecos. Mas uma amiga e colega escreveu, com pauta sugerida por mim, sobre o cartunista Santiago. No próximo post, publico a matéria dela.