sexta-feira, junho 27, 2008

Quadrinhos adultos para crianças

O campo de atuação para um adulto que quer trabalhar profissionalmente com quadrinhos é amplo e variado. Feliz é quem cedo descobre isso e vive as maravilhas não ligadas exatamente ao trabalho de produzir uma HQ. Quer dizer, se você não desenha nem roteiriza, nem por isso precisa deixar de fazer parte desse meio. Se por acaso você desenha/roteiriza, pode além disso ter sua experiência enriquecida atuando em outras funções.

Acredito que a realização se dá justamente em poder atuar de diversos modos dentro de um único campo, economizando energia (pois trabalhar em áreas distintas é muito desgastante) e ao mesmo tempo desenvolvendo habilidades pessoais diversas.

Alguns exemplos de como alguém pode se relacionar com os quadrinhos:

* Escrevendo roteiros - isso envolve o aprimoramento de habilidades narrativas e muito estudo de teorias literárias. É ótimo para quem gosta de falar sobre coisas humanas para seres humanos, para quem sente vontade de registrar suas observações sobre a vida de forma a que os outros também se interessem por ler.

* Desenhando - pegar uma idéia e transformá-la em imagens, com os simbolismos e as regras específicas desse pensamento visual aplicado à narrativa de quadrinhos. Fazer uma narrativa visual bem feita não é para qualquer um, envolve muito estudo, disciplina e amadurecimento. É ideal para quem visualiza cenas, imagens e símbolos não verbais para tudo que pensa. Claro que isso também pode ser desenvolvido, você não precisa necessariamente nascer com essa facilidade.

* Pesquisando - um trabalho fundamental, como forma de construir, consolidar e ampliar conhecimento na área, seja em estudos de narrativa, seja em estudos culturais, seja em estudos de ideologia. No fim, todos os outros profissionais dos quadrinhos vão se voltar para o trabalho de pesquisa, principalmente como forma de consulta e aprendizado.

* Criticando - essa é, disparada, a tarefa mais ingrata. O crítico, por mais que procure ser prudente, por mais que pese toda a responsabilidade que sua crítica pode ter na formação do artista e se preocupe em apontar as falhas e destacar os méritos da obra, ainda assim está sujeito a ser mal compreendido. Nada mais natural, em se tratando de algo que envolve tanto investimento afetivo por parte do autor. É assim que entendo a tal da "vaidade" autoral: algo saudável, sim, porque o artista precisa se envolver emocionalmente com a obra que produz. Só vira doentio quando a crítica é mal interpretada, despertando fúrias, o que não era a intenção do crítico (por que raios ele "falaria mal" só por falar? por que raios o crítico quereria mal ao artista?) Enfim, fazer crítica é uma função muito fundamental do campo, porque ajuda a compreender obras mais complicadas e aponta caminhos para aqueles artistas que ainda não dominam determinada linguagem narrativa. Mas dificilmente o artista entenderá assim. E não estranhe se ele levar para o lado pessoal...

* Comercializando - sim, quem tem habilidades de empreendedorismo e gosta disso pode continuar em contato com quadrinhos e ainda assim visar ao lucro. Como? Criando uma loja especializada em quadrinhos, por exemplo. Lojas assim são necessárias porque atendem a todos: artistas, críticos, pesquisadores...

* Formando público - talvez o trabalho mais gratificante. E é aí que quero chegar, é esse o motivo de existir este post.

Pois hoje estive no Colégio de Aplicação da UFRGS ministrando uma oficina de quadrinhos para alunos de sétima e oitava série. Foram na verdade duas oficinas, abrangendo 90 alunos no total. Cada oficina foi separada em dois módulos, o primeiro abordando as possibilidades de uso pedagógico dos quadrinhos e o estudo de elementos dessa linguagem, e o segundo focando em exemplos de quadrinhos que ultrapassam (e de longe) a barreira dos "quadrinhos para crianças". Claro que na prática foi algo bem mais divertido do que essa nomenclatura toda.

Foi um trabalho de formação de público. E foi riquíssimo, tanto para os alunos quanto para mim. A coisa toda aconteceu numa bagunça que só vendo (e é assim mesmo que acontece, me disseram as professoras). As crianças interrompiam, faziam perguntas, cochichavam, comentavam e na maior parte das vezes chegavam sozinhas e rapidamente às conclusões que eu queria conduzi-las. Chegavam lá antes mesmo de eu completar meu raciocínio. Às vezes, até tive que deixar elas falarem e só ajudar com pequenas observações. Outras vezes nem isso. E em alguns momentos a troca foi tão doida que os alunos acabaram me fazendo ver coisas que até então eu não tinha visto. Em suma, construímos conhecimento juntos.

E isso é impagável.

Eu já havia dado oficinas de quadrinhos para colegas universitários (do tempo que eu ainda era um) de outros cursos, não só das ciências humanas. Já havia palestrado sobre algumas das principais idéias dos quadrinhos para artistas plásticos e professores dessa área. Sempre é legal. Mas para crianças, nossa!, é ainda mais gratificante.

"Como se chama mesmo o nome dessa editora que publicou o 'Maus'?"

"A mãe do Calvin tá com cara de 'aff'' nessa tirinha."

"Eu leio mangá e eles são quase sempre em preto e branco!"

"A Mônica e o Cebolinha são desenhados com formas mais circulares, arredondadas!"

"Olha o desenho que eu fiz, 'sor'."

Claro que também tem aqueles que nem estão pra oficina, mas ainda assim é um trabalho riquíssimo. Mostrar para os alunos que existem quadrinhos maduros, que não são coisa só de criança, e alfabetizar esses alunos em elementos básicos de leitura visual é investir no amadurecimento do campo dos quadrinhos como um todo. Daí podem surgir, no futuro, pesquisadores, artistas (que terão acesso cedo a obras não muito acessíveis para quem não é da área), roteiristas, críticos (coitados!) e até mesmo leitores. Os superficiais, que terão ao menos despertado o interesse por essa linguagem; os mais atentos, que prestarão atenção aos detalhes; os de bom gosto, que contribuirão com o campo na medida em que passarão a exigir mais qualificação dos artistas; e os desinteressados, que no mínimo vão saber que quadrinhos são bem mais interessantes do que parecem.

Essa interação com as crianças é ainda mais rica para mim, quem sabe, do que é para elas. Recomendo a quem ainda não passou por essa experiência. Será bom para você, será bom para as crianças. Para o campo dos quadrinhos, nem se fala.

E para quem quer uma maior sensação de realização no trabalho com quadrinhos, marco uma idéia importante: não se restrinja a um papel estanque dentro do campo. Você pesquisa quadrinhos? Pois vá dar uma oficina também e veja o que acontece. Você tem uma loja de quadrinhos? Comece a estudar narrativas e escreva suas histórias, nem que seja só para você mesmo. Você já é autor? Comece a analisar obras também, pois isso aumentará sua visão crítica sobre o próprio trabalho.

De preferência, atue em três ou mais funções. Você se sentirá bem mais realizado.

***

As idéias que expus neste texto, só para deixar claro, não são mera opinião.

Em primeiro lugar, a metodologia usada na oficina foi pensada de acordo com a faixa etária dos alunos, de acordo com os interesses de leitura e as capacidades de compreensão da idade. A parte de alfabetização em leitura de imagens é baseada praticamente no livro "Desvendando os Quadrinhos", de Scott McCloud. Seria injusto, porém, dizer que todas as idéias partiram daí. Eu passei três anos pesquisando semiótica visual no Grupo Imagem, grupo de pesquisa com certificação do CNPQ orientado pelo professor Adair Caetano Peruzzolo, na UFSM. No Grupo Imagem, debatíamos idéias de Adonis A. Donis, Phillipe Dubois, Eliseo Véron, Jacques Aumont, Umberto Eco e outros. Referências mais precisas você tem aqui!

Também pesquisei sobre narrativas para o meu trabalho de conclusão de curso. Desde então, venho me aprofundando mais nessa área.

Sobre como obter satisfação pessoal e coisas do tipo... Não, essas idéias não são de livros do Paulo Coelho ou livros de auto-ajuda. Mas se fossem, também não seria problema. O importante é que sejam úteis. Caso, porém, você queira um embasamento maior sobre isso, a fonte precisa é o livro "First Things First", de Stephen Covey. Mais do que questões sobre como gerenciar melhor seu tempo, esse administrador fala no livro sobre como definir o que é realmente importante em sua vida, beneficiando até mesmo sua parte profissional (em conseqüência, não como fim). É um livro que ajuda você a pôr as coisas nos seus devidos lugares e ainda dá ótimas idéias sobre como se sentir mais satisfeito com as coisas que você faz, apenas mudando o modo de vê-las.

Outro dia posso resumir aqui as idéias principais desse texto. É importante, mesmo fugindo do tema "quadrinhos".

Bem, por hoje é "só".

segunda-feira, junho 23, 2008

300º post

Deixaria neste livro
toda a minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que pena dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!

Troque a palavra livro por blog e livros por posts nesse poema de García Lorca e será feita então a justa homenagem ao 300° post deste blog. Obrigado, cabruuum, pelas horas santas desses quase três anos de convívio. Obrigado pela aprendizagem, pelo crescimento, pela cumplicidade. Obrigado por me acompanhar esse tempo todo e me proporcionar bons momentos!

Obrigado a você também, leitor, pois essa relação é, na verdade, um ménage à trois. Sairemos para jantar os três!

sábado, junho 21, 2008

A crítica da crítica

Ocorreu uma situação que me parece interessante trazer pro blog.

Há algumas semanas publiquei aqui uma crítica sobre a HQ "A casa ao lado", de Pablo Mayer e Diogo Cesar. Veja aqui!

Confesso (embora o texto por si só deixe claro isso) que fiquei receoso com a repercussão que a crítica poderia ter. Para minha surpresa, não houve repercussão nenhuma. Ehehehe. Mas me interessou saber se, como iniciante que sou nessa lida de fazer críticas, eu tive um julgamento correto sobre a obra. Quer dizer, eu senti que sim, mas é sempre bom o crítico ser autocrítico.

Até porque o crítico é alguém que se torna crítico meio que involuntariamente. Pelas leituras e estudos de determinada linguagem, ele acaba aumentando a percepção e o olhar analítico sobre as obras. Aliás, ele não, eu. Afinal, eu sou o crítico em questão.

Essa observação acaba com aquela dúvida: crítica é opinião? Não, não é. Quer dizer, só é opinião quando o cara que a escreve não tem formação e, com isso, não tem o que falar, quando fica num gostei/não gostei, embora às vezes um pouco mais elaborado do que isso. Só é opinião, portanto, quando o cara que está escrevendo sobre a obra quer se sentir um crítico, sem o ser involuntariamente. Esses casos são complicados. Porque fazer crítica é algo que exige muita responsabilidade.

Eu senti essa responsabilidade quando escrevi sobre "A casa ao lado". E pensei bem se escreveria a crítica ou não. Quer dizer, lendo a obra eu percebi certas coisas, mesmo não querendo. Seria muito mais fácil para mim simplesmente gostar e ponto final. Mas gostei e não gostei, porque vi falhas e tudo o mais, além dos méritos da obra. E decidi que deveria expor tudo isso aqui.

Passou o tempo e, há alguns dias, descobri outras resenhas/críticas sobre a mesma obra. Eu não havia lido nenhuma outra avaliação para escrever a minha própria, que fique claro. Portanto me interessava saber o que veículos especializados (leia-se: "com mais experiência do que eu") escreveriam sobre uma obra que eu também analisei.

Bem, vejamos algumas críticas/resenhas:

- Blog dos Quadrinhos
- Revista O Grito
- Universo HQ

Essa leitura comparativa é realmente um belo exercício. Recomendo que você o faça, não vai levar muito tempo. O maior texto é o meu, os outros são pequenos.

...

Leu?

...

Agora, algumas observações. À primeira vista, parece que há contradições entre os quatro textos (o meu e os outros três que acabo de lincar). Como no fato de eu elogiar a qualidade gráfica da obra e em outro lugar estar dito que "a edição não tem muito luxo". Parece contraditório, mas não é. Eu concordo, a edição não tem muito luxo, mas não precisa de luxo para demonstrar requinte. Dentro do formato simples em que foi pensada a publicação (sem orelhas e tudo o mais), está muito bem feita.

Sobre a parte narrativa, percebi que todas as resenhas/críticas demonstraram um pé atrás em relação ao tema da obra. Algumas fizeram elogios discretos, onde se sobressai mais a crítica subentendida do que o elogio em si. Outros fizeram críticas um pouco mais declaradas, mas procurando neutralizá-las logo em seguida com uma louvação exagerada. Mas, no fim, praticamente todos os textos apontaram que se trata de uma trama simples e que beira o clichê, embora alguns desses textos destaquem aspectos supostamente inovadores que, em tese, dariam todo o mérito da obra e evitariam o clichê. Mas a citação do clichê está ali, em todas as resenhas/críticas.

Poucos entraram nos méritos das questões narrativas em si. Isso me parece explicável por algumas hipóteses:

1) falta formação em análise de narrativa aos resenhistas/críticos - isso seria improvável em alguns casos, mas, mesmo que o fosse, não seria algo ruim de destacar. Afinal, há inúmeras maneiras de olhar uma obra. Eu gosto da parte narrativa. Tem gente que tem mais ligação com o contexto e com a origem histórica, coisas que por enquanto não são meus fortes.

2) foi uma leitura rápida - sim, isso explicaria muita coisa. Eu li com calma porque a minha demanda de leitura não estava grande na época. E, ainda assim, foi uma leitura rápida, porque é um livro pequeno. Mas falo, nos outros casos, em leitura rápida assim, bem rápida mesmo, tipo aerodinâmica - só passar os olhos por cima.

3) estão fazendo vista grossa - também natural. Porque o Pablo e o Diogo são jovens e estão apenas começando essa lida com feitura de quadrinhos. Ninguém quer queimá-los e, ainda por cima, ambos demonstram pontos fortes de potencial qualidade na obra. Isso merece ser destacado. Eu optei por uma abordagem que aponta esses pontos fortes mas que também mostra as falhas, até para os autores se darem conta e poderem evoluir. Outros críticos/resenhistas optaram por falar só dos méritos.

Em suma, lendo os três textos e relendo o meu, cheguei a uma conclusão de certa forma óbvia, mas só depois que eu a expor: todas as críticas/resenhas MANIFESTAM-SE de maneira opinativa ou, melhor dizendo, subjetiva. Em compensação, todas essas opiniões e análises subjetivas SÃO BASEADAS em critérios objetivos muito bem definidos.

Na prática, por exemplo: todos os textos apontaram um enredo pouco interessante em "A casa ao lado", mas a maneira como cada crítico/resenhista decidiu apontar isso variou. Um fez vista grossa, outro elogiou os méritos sem deixar de apontar os defeitos, outro criticou mas cheio de dedos... Todos viram o problema, mas cada um manifestou de um jeito.

Bueno, isso renderia um artigo, mas como prefiro essa linguagem descontraída, rendeu um post.

Jornalismo em Quadrinhos para pesquisadores

Para quem se interessa por Jornalismo em Quadrinhos, eis uma fonte de pesquisa riquíssima!

quinta-feira, junho 19, 2008

Turma da Mônica em formato mangá


A notícia tem saído em muitos veículos especializados: Maurício de Souza vai iniciar uma nova publicação, voltada para o público adolescente. A Turma da Mônica versão mangá vai mostrar as conhecidas personagens infantis lidando com novos conflitos: sexualidade, drogas e as questões que envolvem essa fase de passagem para o mundo adulto.

Alguns veículos para saber mais:


Em fóruns de discussão da internet, há pessoas se manifestando contrárias a essa mudança de público e formato da Turma da Mônica. Na minha opinião, é um descontentamento com a utilização de uma memória pertencente ao mundo da infância, que realmente gostamos de preservar intocável. Mas, confesso, diferentemente da versão mangá do Batman, essa Turma da Mônica Jovem me agrada. Principalmente se não ficar numa abordagem simplista de conflitos envolvendo drogas, sexo e bebidas. A adolescência é rica demais para ser simplificada desse jeito.

O luto da perda da infância. Essa pode ser tanto a explicação para a recusa em ver os personagens da Turma da Mônica crescidos (manifestamos a mesma recusa na vida real, ao ver filhos/sobrinhos/etc entrando na adolescência), como também uma sugestão de abordagem. Mas nada complexo, como pode parecer. Me refiro a tratar do que todo mundo vive nessa fase, tratar das questões que diferem a adolescência do mundo maravilhoso da infância.

Enfim, tem que ver como essa idéia vai ser na prática...

segunda-feira, junho 16, 2008

Chutar dois baldes

Depois do último post, entrei numa maré de revolta contra a sociedade. Isso acontece de tempos em tempos.

Como o universo sempre conspira a favor justamente quando não deve conspirar, acabei encontrando esta tira do André Dahmer:

Eu esperava a autorização do Dahmer para publicar aqui no blog. Ainda bem que ela não veio ainda na sexta-feira, quando encontrei a tira. Eu estaria criando as bases para o meu legítimo dia de fúria. Como passei um final de semana longe do computador, tudo isso passou.

Por ora.

Em todo caso, vou ficar atento. Qualquer alteração no quadro clínico, manterei você informado.

***

Esta é a última pá de terra:

sexta-feira, junho 13, 2008

Chutar o balde

Quem já não sonhou em fazer que nem o Michael Douglas em "Um dia de fúria"? Extravasar, chutar o balde, devolver para a sociedade a pressão que a sociedade nos impõe. Porque, de certa forma, a sociedade é que é diariamente neurótica, não o cidadão que uma vez só se revolta.

Como disse uma vez o psicólogo Eduardo Castro num encontro no Curso de Comunicação da UFSM, não devemos ter culpa por sentir tristeza ou depressão no mundo de hoje. Na sociedade doente em que vivemos, sentir-se mal é a única resposta saudável que podemos ter.

Normalmente, o sentir-se mal é o caminho do meio para provocar mudanças e aprender a viver de um jeito mais saudável no meio dessa doença toda. Mas tem gente que reage por meio da explosão, da revolta instantânea e imediata que, no meu ver, também é uma resposta saudável. Michael Douglas é o modelo desse tipo de rebelião social.

Esta história em quadrinhos também é.

***

Procurando um link que remetesse ao filme "Um dia de fúria", acabei dando de cara com essa notícia aqui. Um pouco bizarra, como você vai ver. Mas exemplar no sentido de se rebelar contra algo que a gente tende a aceitar de cabeça baixa.

Outro belo exemplo de rebeldia (e uma rebeldia incentivada por quem a praticou) é a história contada nesta reportagem da Rolling Stone sobre o jornalista Eduardo Bueno. Que, aliás, cita Michael Douglas.

domingo, junho 08, 2008

Quadrinhos em reconstituição de crimes

O quadrinista Gilmar Fraga concedeu uma entrevista ao blog do Neorama, comentando o trabalho que fez para o jornal Zero Hora: a reconstituição em quadrinhos do assassinato do jornalista José Antônio Daudt, ocorrida há 20 anos.

O interessante é que o Gilmar não considera esse trabalho como uma obra de quadrinhos-verdade (ou jornalismo em quadrinhos, embora não sejam exatamente a mesma coisa). No ponto de vista do Gilmar, trata-se de uma reconstituição visual do crime. Me parece uma visão muito lúcida.

E o trabalho é muito bom, vale a pena conferir.

Cutuque aqui!

quarta-feira, junho 04, 2008

Emprego pra Mônica

Wilson Dias/Agência Brasil










"Personagem Mônica é nomeada embaixadora do turismo
do portal Terra

Foi dado à personagem infantil de quadrinhos Mônica o título de Embaixadora do Turismo Brasileiro, ontem, em solenidade feita pela ministra do Turismo, Marta Suplicy." [leia mais]

terça-feira, junho 03, 2008

Fontanarrosa

Publico hoje a segunda parte do texto de Ben-Hur Demeneck, sobre o cartunista argentino Fontanarrosa. Pra quem não leu a primeira parte, cutuque aqui!

***

Fontanarrosa - o criador de Inodoro et cetera
por Ben-Hur Demeneck

Fontanarrosa era um homem de cultura. Uma olhada na sua biografia mostra como foi atuante em várias artes. Na arte seqüencial, literatura, cinema, música e futebol – esta a mais desenvolvida por brasileiros e argentinos. O cartunista recebeu do senado argentino a condecoração Domingos Faustino Sarmiento, em 26 de Abril de 2006. Homenagem concedida pela contribuição da sua carreira à cultura de nosso país hermano.

Seu apelido (digo, alcunha) era “El negro”. Nasceu em Rosário, na Argentina, e seu trabalho circulou pelo mundo latino. Teve uma produção grande e era admirado pela rapidez e precisão com que desenhava. Publicou nos jornais El Tiempo (Colômbia) e La República (Uruguai) e na revista Proceso (México). Na Argentina, o diário Clarín. No mundo da música, foi colaborador do grupo Les Luthiers. Uma banda bem-humorada que trazia um refinado humor nas apresentações e sonoridades especiais tiradas de instrumentos fabricados por eles mesmos.

“Boogie, el aceitoso” e “Inodoro Pereira, el renegaú” são seus personagens de quadrinhos mais populares. O primeiro retratava um franco-atirador, uma sátira da banalização da violência. Sua única edição no Brasil está esgotada (L&PM). Inodoro é o boneco à direita da fotografia abaixo. Ele é um típico gaúcho argentino, com fala marcada pelo regionalismo. O mundo todo vai até a sua estância. Conversa com personagens reais, imaginários e bichos. Inédito por aqui. Na terra natal, as tiras de ambos renderam mais de trinta coletâneas - vinte para Inodoro, doze para Boogie (Ediciones de la Flor). As que serviram de referência para o post anterior tinham, cada uma, mais de cem páginas.





O inventário do autor inclui humor, contos e romances. “Best Seller”, “El área 18” e “La gansada” são romances. Na lista contos reunidos, “El mayor de mis defectos”, “El mundo ha vivido equivocado”, “La mesa de los galanes”, “Nada del otro mundo”, “No sé si he sido claro”, “Uno nunca sabe”. Em humor, como atesta o dogue Mendieta, que lo parió!: “Fontanarrosa y los médicos”, “Fontanarrosa y la política”, “Fontanarrosa y la pareja”, “Los clásicos según Fontanarrosa”, “El sexo de Fontanarrosa”, “El segundo sexo de Fontanarrosa”, “Fontanarrosa contra la cultura”, “El fútbol es sagrado”, “Fontanarrosa de penal”, “Fontanarrosa es mundial”, “Fontanarrosa continuará”, “Semblanzas deportivas”. Entre tantas obras, acabou participando de uma das feiras do livro de Porto Alegre. Segundo o cartunista Santiago, foi “mal aproveitado pelos entrevistadores locais”. Texto publicado no Jornal do Comércio, na ocasião do falecimento do argentino.


O autor de Inodoro Pereyra faleceu em 19 de Julho de 2007. O cortejo passou pelo estádio de Rosário Central, time do qual era torcedor roxo. Bem, para recuperarmos sua imagem vívida, complementar a sua obra, vale muito a pena conferir uma apresentação no III Congreso Internacional de la Lengua Española. Nos cinco minutos e quarenta seguintes, temos a sua imagem, inteligência e a comoção da platéia. Conversa sobre a importância dos palavrões. Para ele, não há porque bani-los – afinal “ainda precisaremos muito deles”. Chega a creditar a falta de maiores êxitos na Revolução Cubana por pura questão de sotaque. Fontanarrosa era figura.

Comentários sobre Fontanarrosa

“Fontanarrosa, grande amigo do cartunista Quino (criador da Mafalda), conhecia muito bem os desenhistas brasileiros e admirava Jaguar, Henfil, Emilio Fernandes e Edgar Vasques. No Brasil, Fontanarrosa ficou conhecido quando a L&PM publicou, nos anos 1980, os álbuns de seu personagem Boogie, O Seboso, um assassino de aluguel criado em 1972, cujas maiores diversões são brincar de franco-atirador de sua janela e comprar armas novas. O traço fino, elegante e limpo do artista influenciou gerações de cartunistas na América do Sul. Ele dizia que copiava, 'sem vergonha', o italiano Hugo Pratt" – blog de Jotabê Medeiros.

“Dono de um humor muito inteligente e ágil, acho que o grande culpado do total desconhecimento no Brasil do Fontanarrosa deve-se ao seu personagem principal, Inodoro Pereyra, el renegau, que existe há mais de 20 anos. Inodoro (que em espanhol significa 'privada') é un auténtico gaucho de la pampa, que vive num ranchinho com sua mulher Culogia, e seu cachorro falante, Mendieta. O problema é que os textos são escritos numa linguagem muito típica do interior, com expressões próprias e com erros de grafia, para se assemelhar mais à fala da gente local. A começar pelo próprio título, 'renegau' na verdade deveria ser 'renegado', como em português. Daí, meus caros, que é foda de entender.” Blog Borduna.

Para saber mais

- O texto de Santiago publicado no Jornal do Comércio – Disponível no blog Grafar

- Curtametragem baseado em textos e desenhos de Fontanarrosa – História de Roberto Fontanarrosa e direção de Hernan Vieytes – 8 min 24s

Nada a ver com quadrinhos

Esta não tem gancho que justifique!

Divulgo aqui um novo projeto de jornalismo que estou tendo o prazer de participar. Espero que você que entrou aqui querendo ler sobre quadrinhos entenda. Em todo caso, imagino que o leitor deste blog se interessa também por esse tipo de jornalismo menos distante do jornalismo utópico. Porque o jornalismo da realidade, meu amigo, é fogo!

Enfim, eis o release divulgando a estréia do programa "Fiz + Sotaques". Ao ler, passe os verbos para o passado, porque a estréia foi ontem.

***


FIZ + SOTAQUES: JORNALISMO NO PLURAL

No dia 2 de junho, segunda-feira, estréia no FIZ TV o semanário feito por jovens jornalistas espalhados pelas cinco regiões do país.

De que jeito se fala num país de 8,5 milhões de metros quadrados? De que jeito 183 milhões de habitantes se comportam? É impossível que para essas perguntas não se tenha na resposta um “depende”. De fato, depende. Depende de a qual pedaço deste gigante Brasil você se refira. E se é certo que cada região tenha suas peculiaridades, por que as notícias, as informações têm que ter um único sotaque? Por que o comportamento brasileiro tem que ser medido por cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, quando outros 5.562 municípios existem?

Descentralizar as notícias, aprofundar os diversos temas tratados, assumir os diferentes sotaques e mostrar um Brasil em toda sua brasilidade. São essas as propostas do Fiz + Sotaques (www.sotaquesdobrasil.blogspot.com), primeiro programa jornalístico do Canal FIZ TV, do Grupo Abril (www.fiztv.com.br - veja box). Por meio de uma equipe de videorrepórteres espalhados pelas cinco regiões do país, o programa vai mostrar como os assuntos do dia-a-dia da mídia se manifestam de forma diferente em cada canto do Brasil, encontrando também o ponto em comum entre essas regionalidades. “É uma forma de nacionalizar a informação a partir de vários pontos distintos dos Brasis”, diz Leandro Lopes, diretor do FIZ + Sotaques.

“A idéia é humanizar, mostrar aquilo que a grande mídia geralmente não mostra, diminuir a distância entre a vida real e o que se vê na tevê”, diz Augusto Paim, videorrepórter do Fiz + Sotaques. Leandro concorda: “existem padrões jornalísticos estabelecidos há anos na TV brasileira que não cabem mais nessa linguagem interativa e nesse momento de invasão do modo televisivo feito na internet”.

Os videorrepórteres do Fiz + Sotaques gravam as entrevistas e as imagens com uma câmera fotográfica digital e buscam uma linguagem experimental e documental ao mesmo tempo, sem seguir os padrões restritos do jornalismo convencional. O atual time de repórteres conta com jornalistas presentes no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Sergipe e Minas Gerais, contando também com participações eventuais de videorrepórteres de outros Estados.

“Queremos nos sintonizar com as novas possibilidades de se produzir conteúdo jornalístico, usando as ferramentas da web para fazer o jornalismo sério, aprofundado e humano que todos nós queremos”, diz Augusto, que completa: “mobilidade: essa também é uma palavra-chave. Queremos mostrar como um assunto se desenvolve na metrópole, mas também no interior. Os videorrepórteres viajam com a câmera e, por isso, não ficam restritos ao lugar em que estão. Cada nova cobertura será uma surpresa”.

No www.fiztv.com.br você encontra os dois pilotos produzidos pela equipe do Fiz + Sotaques. Basta digitar “Motoboys dos Brasis” e “Carnaval, meu nome é...” no campo de busca. O programa de estréia, no dia 2 de junho, será sobre o tema: “sotaques do Brasil”.

“O Fiz + Sotaques irá oxigenar a grade do canal por se tratar do primeiro programa de jornalismo colaborativo. Além disso, esse formato de um jornalismo discutido sob a visão de pessoas espalhadas pelo Brasil inteiro é muito semelhante a proposta do canal que busca uma linguagem plural na sua programação”, comemora Marcelo Botta, diretor do FIZ TV.

O programa irá ao ar todas as segundas-feira, às 21h15, no canal 16 da TVA analógica e no canal 20 da TVA digital, em São Paulo (capital e interior), Santa Catarina (Florianópolis e Camboriú), Paraná (Curitiba e Foz do Iguaçu), Rio de Janeiro (capital) e Minas Gerais (Uberlândia). Os programas também estarão disponíveis no site do FIZ TV, para qualquer lugar do Brasil.

FIZ TV
O FIZ é o primeiro e único canal de TV colaborativo do Brasil. Pertencente ao Grupo Abril, com menos de um ano de vida, o projeto já conseguiu criar uma forte comunidade de produtores de vídeo na web e uma linguagem ousada e inovadora dentro da televisão brasileira. Nos últimos meses, o canal dedica-se para que produtores de todo o país enviem não somente vídeos, mas também programas formatados e pensados para uma nova televisão. A criação de um pioneiro sistema de remuneração somado à grande liberdade editorial que o canal dá aos produtores permite que público acompanhe, cada vez mais, o surgimento de novas e boas idéias no universo audiovisual brasileiro.