terça-feira, junho 03, 2008

Fontanarrosa

Publico hoje a segunda parte do texto de Ben-Hur Demeneck, sobre o cartunista argentino Fontanarrosa. Pra quem não leu a primeira parte, cutuque aqui!

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Fontanarrosa - o criador de Inodoro et cetera
por Ben-Hur Demeneck

Fontanarrosa era um homem de cultura. Uma olhada na sua biografia mostra como foi atuante em várias artes. Na arte seqüencial, literatura, cinema, música e futebol – esta a mais desenvolvida por brasileiros e argentinos. O cartunista recebeu do senado argentino a condecoração Domingos Faustino Sarmiento, em 26 de Abril de 2006. Homenagem concedida pela contribuição da sua carreira à cultura de nosso país hermano.

Seu apelido (digo, alcunha) era “El negro”. Nasceu em Rosário, na Argentina, e seu trabalho circulou pelo mundo latino. Teve uma produção grande e era admirado pela rapidez e precisão com que desenhava. Publicou nos jornais El Tiempo (Colômbia) e La República (Uruguai) e na revista Proceso (México). Na Argentina, o diário Clarín. No mundo da música, foi colaborador do grupo Les Luthiers. Uma banda bem-humorada que trazia um refinado humor nas apresentações e sonoridades especiais tiradas de instrumentos fabricados por eles mesmos.

“Boogie, el aceitoso” e “Inodoro Pereira, el renegaú” são seus personagens de quadrinhos mais populares. O primeiro retratava um franco-atirador, uma sátira da banalização da violência. Sua única edição no Brasil está esgotada (L&PM). Inodoro é o boneco à direita da fotografia abaixo. Ele é um típico gaúcho argentino, com fala marcada pelo regionalismo. O mundo todo vai até a sua estância. Conversa com personagens reais, imaginários e bichos. Inédito por aqui. Na terra natal, as tiras de ambos renderam mais de trinta coletâneas - vinte para Inodoro, doze para Boogie (Ediciones de la Flor). As que serviram de referência para o post anterior tinham, cada uma, mais de cem páginas.





O inventário do autor inclui humor, contos e romances. “Best Seller”, “El área 18” e “La gansada” são romances. Na lista contos reunidos, “El mayor de mis defectos”, “El mundo ha vivido equivocado”, “La mesa de los galanes”, “Nada del otro mundo”, “No sé si he sido claro”, “Uno nunca sabe”. Em humor, como atesta o dogue Mendieta, que lo parió!: “Fontanarrosa y los médicos”, “Fontanarrosa y la política”, “Fontanarrosa y la pareja”, “Los clásicos según Fontanarrosa”, “El sexo de Fontanarrosa”, “El segundo sexo de Fontanarrosa”, “Fontanarrosa contra la cultura”, “El fútbol es sagrado”, “Fontanarrosa de penal”, “Fontanarrosa es mundial”, “Fontanarrosa continuará”, “Semblanzas deportivas”. Entre tantas obras, acabou participando de uma das feiras do livro de Porto Alegre. Segundo o cartunista Santiago, foi “mal aproveitado pelos entrevistadores locais”. Texto publicado no Jornal do Comércio, na ocasião do falecimento do argentino.


O autor de Inodoro Pereyra faleceu em 19 de Julho de 2007. O cortejo passou pelo estádio de Rosário Central, time do qual era torcedor roxo. Bem, para recuperarmos sua imagem vívida, complementar a sua obra, vale muito a pena conferir uma apresentação no III Congreso Internacional de la Lengua Española. Nos cinco minutos e quarenta seguintes, temos a sua imagem, inteligência e a comoção da platéia. Conversa sobre a importância dos palavrões. Para ele, não há porque bani-los – afinal “ainda precisaremos muito deles”. Chega a creditar a falta de maiores êxitos na Revolução Cubana por pura questão de sotaque. Fontanarrosa era figura.

Comentários sobre Fontanarrosa

“Fontanarrosa, grande amigo do cartunista Quino (criador da Mafalda), conhecia muito bem os desenhistas brasileiros e admirava Jaguar, Henfil, Emilio Fernandes e Edgar Vasques. No Brasil, Fontanarrosa ficou conhecido quando a L&PM publicou, nos anos 1980, os álbuns de seu personagem Boogie, O Seboso, um assassino de aluguel criado em 1972, cujas maiores diversões são brincar de franco-atirador de sua janela e comprar armas novas. O traço fino, elegante e limpo do artista influenciou gerações de cartunistas na América do Sul. Ele dizia que copiava, 'sem vergonha', o italiano Hugo Pratt" – blog de Jotabê Medeiros.

“Dono de um humor muito inteligente e ágil, acho que o grande culpado do total desconhecimento no Brasil do Fontanarrosa deve-se ao seu personagem principal, Inodoro Pereyra, el renegau, que existe há mais de 20 anos. Inodoro (que em espanhol significa 'privada') é un auténtico gaucho de la pampa, que vive num ranchinho com sua mulher Culogia, e seu cachorro falante, Mendieta. O problema é que os textos são escritos numa linguagem muito típica do interior, com expressões próprias e com erros de grafia, para se assemelhar mais à fala da gente local. A começar pelo próprio título, 'renegau' na verdade deveria ser 'renegado', como em português. Daí, meus caros, que é foda de entender.” Blog Borduna.

Para saber mais

- O texto de Santiago publicado no Jornal do Comércio – Disponível no blog Grafar

- Curtametragem baseado em textos e desenhos de Fontanarrosa – História de Roberto Fontanarrosa e direção de Hernan Vieytes – 8 min 24s

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