segunda-feira, maio 15, 2006

Tuuudo azuuul, Adão e Eva no paraísuuu...

Temos batido na mesma tecla nos últimos posts do Cabruuum: quadrinhos e música. Ou melhor, temos batido na mesma corda. Daí que hoje a gente troca a guitarra pelo violão, e também muda de estilo.

Ok, mas que tem a ver o título deste post (pra quem não se deu conta, é o trecho da música Sem Pecado e Sem Juízo, de Baby do Brasil) com a pauta (jornalística, não musical)? Bueno, a princípio, nada. Quer dizer, eu vou escrever sobre o livro Blues, do Robert Crumb. De Blues pra blue (=azul, em inglês), foi um tapa. Ou mesmo uma cacetada na cabeça, que me deixou sem criatividade.

Mas vamos ao que realmente interessa. Quem é Robert Crumb? Esse cara nascido para os quadrinhos, com uma onomatopéia no nome!

Bem, ele é tão conhecido que achei que a internet borbulharia de coisas a seu respeito. Achei, porém, só coisas bem simples, como:

"Robert Crumb é um artista e ilustrador que assina seu trabalho como 'R. Crumb'. Crumb foi um dos fundadores do movimento underground dos quadrinhos cômicos, e é considerado frequentemente como a figura mais proeminente nesse movimento. Seus trabalhos foram bastante apreciados na cena hippie, tendo deixado marcado nesta década a frase Keep on Truckin´ e os personagens Mr. Natural (um sábio mestre) e Fritz, the cat, um gato boa vida que usa muitas drogas e tem uma vida sexual bastante lasciva." (Isso estava na Wikipédia, em português. Se tu manjar de inglês, eis uma versão bem mais completa!)


[esse é o Mr. Natural]


Já este texto aqui é bem mais realista (e vem até com um autodesenho do cara):

"Robert Crumb nasceu em 30 de agosto de 1945, na Filadélfia, num ambiente bem neurótico. O pai gostava de bater na família toda e a mãe vivia dopada com remédios. Claro que todo esse exemplo resultou em filhos - adolescentes e depois adultos - deslocados. Segundo o próprio Crumb, seu irmão (com quem editava gibis) era tão depressivo que acabou suicidando-se.

Com toda essa carga familiar, Robert Crumb sobreviveu, mas seu desenho acabou refletindo personagens gordos, sujos, asquerosos, paranóicos (com muito humor), uma característica do quadrinho underground - sátira do estilo de vida americano. Os personagens: Angelfood Mc Spade; Mr. Natural; Leonore Golberg e Fritz, the cat, saíram entre 1962 e 1968 e consagraram-no como um dos gurus da contracultura. Crumb sofreu um processo por ter desenhado uma história de incesto (revista Zap nº4) e foi condenado pelo tribunal. Atualmente vive retirado numa fazenda e se diverte tocando banjo numa banda country." (Isso estava neste link aqui)

Também tem uma entrevista concedida para a Folha de São Paulo; infelizmente, por telefone. Apesar disso, dá para aprender alguma coisa sobre o pensamento do cara. Basta cutucar aqui!

E você tem ainda a opção de olhar o site oficial do Crumb ou outro de fãs dele. Tem também o The Crumb Museum e este outro aqui, que resume, em inglês, algumas de suas obras.

Mas, no fim, acho que dá pra conhecer muito bem o trabalho dele por meio deste desenho:




Voltando ao Blues...
... que é o trabalho dele que eu li. Trata-se de um álbum sobre blues, esse estilo musical de origem afro-americana. Crumb é tarado (não haveria palavra melhor) por blues e, de certa forma, o livro é uma homenagem ao seu objeto de culto.


[eis o livro. Se machucar com o mouse em cima, tu vai parar no site da editora, bem no texto sobre essa obra]

Antes de ler, achei que a obra seria um exemplo de jornalismo em quadrinhos. Depois percebi que só a historieta sobre Charley Patton, um homem do blues, poderia ser encarada como. Mais tarde, até essa hipótese foi refutada: no posfácio, Crumb conta que fez a pesquisa para a história no livro Deep Blues, de Robert Palmas, de 1981, cuja maior parte das informações foi posteriormente contestada.

Outras partes de Blues são antológicas. Na série "As velhas canções são as melhores", Crumb desenha algumas músicas. Isso mesmo, desenha. Desenha a imagem que ele faz de determinada música, o que lhe vem a cabeça quando a escuta. Assim, "On the street where you live", "Purple Haze" e "When you go a courtin" são parodiadas com desenhos.

Em "É a vida", Crumb relata um pouco da sua história de fã de blues, batendo de porta em porta em bairros antigos à cata de discos velhos abandonados.

[o autor, se auto-representando]

Em "Onde foi parar toda aquela magnífica música dos nossos avós?" e "Por que será que ver pessoas agitando e requebrando é tão repugnante pra mim??", Crumb mostra bem a que veio, mostrando toda a sua visão de mundo. Nessa última historieta, aliás, o autor relata (sempre sarcasticamente) como alguns desenhos antigos dele foram distorcidos a tal ponto que, para os outros, viraram um símbolo justamente daquilo do que, com eles, Crumb tentava criticar. Já "Quadrinhos Be Bop Cubistas" é uma experiência visual do autor.



[um dos desenhos de Blues]

Talvez a história mais marcante do livro seja uma composta de somente 12 quadros, todos do mesmo tamanho e retratando uma paisagem fixa ao longo do tempo, cada quadro representando uma época diferente. Assim, "Uma breve história da América" vai da imagem de um campo desabitado até uma rua cheia de carros, lojas e outdoors, concluindo com a pergunta: "E agora?!!"

Em Blues você também encontra uma série de cartazes e capas de LPs desenhados por Crumb. E, no fim, um posfácio do autor, bem interessante, principalmente por ele mostrar como é conduzido pela sua obra, e não o contrário. Acontece de muitas vezes começar uma história querendo terminar dum jeito e, sem querer, terminar de outro. Mais ou menos como errar o chute e fazer o gol.

***

Agora eu peço ajuda a você, cabruuunco (ehehehe). Calma, calma, não precisa sumir não, não é dinheiro que vou pedir. Pelo menos não agora. Eheheheh. O Cabruuum ainda se sustenta.

Acontece que Crumb cita, em Blues, o documentário feito por um amigo dele, Terry Zwigoff, cujo título é justamente Crumb. Trata-se, portanto, de uma biografia do desenhista. Não encontrei em nenhuma locadora de Santa Maria. Se você tiver acesso a esse filme, sinta-se convidado a escrever no Cabruuum sobre ele.

É isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

rapá, esse álbum tá guardado pra mim numa livraria daqui há séculos... vou ver se pego essa semana, começo da outra. augustóteles: te devo ainda a revista. mando sexta-feira. sei que você já não agüenta mais essa eterna prorrogação de promessa etc., mas te explico melhor nalguma topada aí pelo msn. abraço!