sábado, março 14, 2009

A man who didn't watch "Watchmen"


Não li "Watchmen", não assisti "Watchmen". Digo isso com sinceridade, pois não quero que você fique com uma falsa impressão deste blog. Não é bom para o nosso relacionamento.

Não li e não vi, mas sei que devo ler e ver. A hora certa chegará. Preciso dizer, porém, que não sou um work-a-holic dos quadrinhos. Leio com calma, divulgo com calma, me interesso com calma.

Ainda bem que os colaboradores (leia-se "gente que envia texto sem esperar receber nada ($$) em troca") preenchem essa lacuna que deixo faltando. Hoje quem me salva é Danilo Kossoski, que já colaborou com o cabruuum. O Danilo escreve sobre suas impressões ao assistir e ler Watchmen. Como contraponto, veja também o comentário de Paulo Ramos, do Blog dos Quadrinhos, sobre o filme, cutucando aqui.

***

Watchmen: o filme e a HQ

por Danilo Kossoski*

Poucas coisas me atraem mais do que o cinema. É verdade que a pipoca é caríssima, o atendimento nos guichês é péssimo. As crianças ficam gritando durante a sessão. E os adultos não desligam o celular, e atendem no meio do filme, dizendo “não posso falar agora, estou no cinema...”, e seguem falando por pelo menos um minuto.

Apesar de tudo isso, ainda é possivel ficar satisfeito quando a gente termina de assistir a um filme, com a certeza de ter visto o lançamento de uma excelente produção.

E, felizmente, ainda existem excelentes produções. Ultimamente a sétima arte tem buscado inspiração nos quadrinhos, e alguns resultados têm sido muito bons. Foi assim com o Batman em seus últimos dois filmes. E agora o filme Watchmen consegue, novamente, a façanha de realizar uma brilhante adaptação.


Quando soube que Watchmen estava para chegar aos cinemas, e que era a baseado em uma HQ (ou graphic novel), perguntei a mim mesmo: Watchmen? Eu nunca tinha ouvido falar. Ainda bem que sempre é tempo para uma atualização.

Uma rápida busca na internet ofereceu razoável gama de informações. Entre elas encontrei um site [que parece estar com problemas técnicos agora] de onde foi possível fazer download dos 12 capítulos da História em Quadrinhos Watchmen. E a leitura do primeiro capítulo me fez perceber o óbvio... eu precisava ler todos.

Watchmen é uma HQ fascinante, repleta de detalhes nos traços e no enredo. Ao aliar a ficção com fatos e personagens históricos, a trama convence o leitor, quase como se a leitura fosse demonstrar o futuro do próprio espectador. Mas não é fácil descrever as sensações que a HQ desperta. Basta dizer que a leitura da história até o capítulo 10 me fez desejar ver o filme, mais do que já desejei ver qualquer outra adaptação para o cinema.

Isso motivou grande receio, também. Quando a expectativa é muito grande, a tendência à decepção é proporcional. Mas então assisti ao trailer no Youtube, li algumas matérias a respeito, e estava convencido de que o filme seria uma experiência única. Felizmente, não me enganei.

O filme Watchmen consegue reproduzir cenas idênticas às encontradas na HQ. Os personagens são, a maioria, muito parecidos com os encontrados nas páginas de quadrinhos. E até a voz deles, se considerarmos os recursos empregados no uso de balões na HQ, estão de acordo com o esperado.


A primeira metade do filme pode provocar arrepios àqueles que, como eu, acabaram de ler a HQ feita na década de 1980. É como experimentar uma seqüência de déjà vus, apesar de saber que eles virão.

A magia de qualquer boa história em quadrinhos está no fato de, entre um quadro e outro, o leitor criar mentalmente o movimento dos personagens. Já me aconteceu de ler um gibi do Pato Donald, por exemplo, e depois não lembrar se a história era de uma HQ ou de um desenho animado, tal é o processo que nosso cérebro é capaz de desenvolver.

Mas foi a primeira vez que experimentei isso diante de um filme. Lembrando agora das cenas, não sei distinguir quais vi no filme e quais li nos quadrinhos. Os atores foram escolhidos a dedo, com feições que remetem aos personagens originais. O mesmo acontece com os trajes dos heróis mascarados, os diálogos, as expressões faciais, e os cenários. O quarto, o porão, a banca de revistas, a escadaria, a calçada, a porta... Tudo no filme parece seguir a HQ. Até mesmo a transição entre um capítulo e outro pode ser reconhecido no filme, apesar de não estar evidente para alguém que não leu a HQ.


Claro, como disse, essa é a primeira parte de um filme de 166 minutos. Na seqüência, o roteiro toma algumas liberdades que criam um princípio de desconforto no espectador atento.

O personagem Roschach é ameaçado por um sujeito com uma serra elétrica, quando no original ele é ameaçado por um cara segurando um maçarico. É o sinal que demonstra que uma guinada está para acontecer no filme. Uma das personagens diz “confie em mim”. Pelo amor de Deus! Deveria haver uma legislação que proibisse o uso de um clichê como esses.


Entretanto, as comparações divergentes terminaram minutos depois, porque eu havia tomado o cuidado de ler apenas 10 dos 12 capítulos da HQ. Desse modo, fui ao cinema ainda sem a certeza de qual seria o final.

Se o desfecho me pareceu deprimente, por um lado; por outro, refletindo sobre a história toda, reconheci que fazia todo o sentido, e deixei a sala de cinema satisfeito. Me perguntava se o final da HQ seria mesmo aquele e, no dia seguinte, matei minha curiosidade, lendo os dois capítulos que faltavam.

O final do filme tem uma variação, sim, mas não compromete o aspecto geral da obra. A mensagem de esperança, de que a verdade nunca morre totalmente, está presente em ambas as produções. E o destino dos personagens principais também não muda.

Um aspecto negativo do filme talvez seja a impossibilidade de trazer as analogias e metáforas presentes na HQ. Mesmo sendo um filme considerado de longa duração, não traz nenhum item adicional aos quadrinhos. Faz alterações, mas não soma novidades. E a maioria das mudanças é meio que sem propósito, a não ser a explicação final, que pareceu ter o objetivo de simplificar um trecho de maior complexidade da HQ.


Mas, de maneira geral, é preciso reconhecer o mérito da produção, que na maior parte do tempo é fiel à histórica série dos quadrinhos, e que serve como celebração a uma obra inteligente como é a HQ Watchmen – cujos créditos vão para Alan Moore (argumento) e Dave Gibbons (arte).
Ainda dá tempo de assistir no cinema. Mas, se for possível, a leitura prévia da HQ é altamente recomendada ao espectador, que terá a chance de reconhecer no filme algumas “informações bônus” que só podem ser notadas pelos leitores. Além de facilitar a compreensão do início da história.

*O autor é jornalista e cartunista

3 comentários:

Danilo Kossoski disse...

Lendo o comentário de Paulo Ramos, preciso reconhecer que concordo com ele em sua análise. Não havia notado que o nome de Alan Moore não consta no início filme.

Mas acredito que transmitir a narrativa plena de Moore para o cinema já seria desejar demais.

Nem consigo imaginar um filme superando a HQ que lhe dá origem. Mas podemos pensar que é um ótimo pretexto para motivar o conhecimento da obra original.

E o fato de o filme não ser maior que a HQ, além de ser algo já esperado e até óbvio, só serve para evidenciar as qualidades da graphic novel.

Se é possível criar um filme com aspectos visuais tão semelhantes a uma HQ, é porque a HQ foi incrivelmente bem feita.

Enfim, acho que vale a pena conhecer Watchmen. Nos quadrinhos e no filme.

Anônimo disse...

Bem... eu estava lá... digo, nos anos 80, final dos 80 e inicio dos 90, e li Watchmen quando ainda era comteporânea,a guerra fria ainda tava rolando e essas tensões sobre corida armamentista estavam em alta.Nessa época tive contato com V de Vingança e Watchmen; e como descreveu muito bem o Paulo, sempre existe algo de cinematográfico na experiência de ler uma HQ, especialmente uma HQ boa como Alan Moore, ou Neil Gaiman.Então quando ainda garoto li essas duas Graphics entre outras(mas essas foram as que mais chamaram a atenção)ja em meados de 1991 eu me pegava imaginando um elenco de Hollywood para essas duas obras... posso dizer que esperei praticamente 20 anos pra ver finalmente na tela grande uma amostra desses Best Sellers que influenciaram tanto minha vida...porém, confesso que saí decepcionado da sessão de V de Vingança, que foi adaptado pelos Wachowsky(Matrix)em 2007, e teve sua historia original totalmente alterada, o que a meu ver empobreceu a trama significativamente.Ah... mas como diziamos la na comunidade Watchmen Brasil "In Snyder we trust" nós acompanhamos de pertinho a produção, os primeiros treileres, as fotos e boatos sobre a filmagem que teve de tudo até briga judicial pela distribuição(fox x warner eu acho), mas Snyder ja havia provado seu valor pela belíssima adaptação de 300, então estávamos até certo ponto confiantes, então finalmente... o Filme.Arrepiou.Foi emocionante... tive convites para ir, mas tinha que ir sozinho, claro... pra experimentar os Deja vus de que falou o Paulo, e realmente foi demais finalmente ver cenas que foram transpostas quadro a quadro para o cinema, e o desafio de condensar toda aquela profundidade que é Alan Moore em apenas 2hs e 40minutos, sob a pressão dos investidores, que sempre querem entretenimento para as massas, acho que Snyder está de parabéns.As adaptações estão seguindo um caminho melhor agora, onde se procura uma fidelidade maior a obra original, que eu acho ser fundamental independente de contexto.Quer entender?Leia a HQ e estude um pouquinho de Historia.Mas não venha mudar o enredo só porque não estamos mais naquela época, ou por medo de tornar-se uma arte hermética,inacessível.Afinal as melhores obras da historia não tiveram compromisso com as forças de mercado e o sucesso veio naturalmente decorrente do seu conteúdo, e isso acontee hoje de novo com Watchmen, o Filme, que traz os questionamentos existencialistas à tona para uma nova geração de pensadores... alimento para suas mentes ávidas por novas idéias revolucionárias.E se antes nós líamos a HQ pra depois ver o filme, agora quantas pessoas verão o filme e lerão a HQ depois?Então sejam bem vindos!

Danilo disse...

Ainda não li, mas sempre, desde garoto, ouvia falar da HQ.
Em matéria da Revista Trip, não me recordo ao certo em que ano, mas antes dos filmes do Allan Moore serem adaptados, ele disse que é totalmente contra a migração de obras de uma à outra mídia.
Portanto o nome dele não consta nos créditos porque a DC Comics compra a parte dele.