segunda-feira, maio 08, 2006

Os X-men de Santa Maria

A Feira do Livro de Santa Maria foi hoje o palco do lançamento da sétima edição da revista Quadrante X.

Tá, mas que é isso? Uma entidade?

Meu filho, vamos com calma.

A publicação é realizada pela Quadrinhos S.A., o núcleo de quadrinistas de Santa Maria. Participaram desta edição 12 membros do grupo.

Deixa eu ver, deixa eu ver!

A Quadrante X é composta por reportagens e também por histórias em quadrinhos.

Deixa eu ver, vai, deixaaaaaaa...!

Pronto, tá aqui, ó, a capa! Mas vai lavar as mãos antes!!!




***

Para não deixar você voando como as borboletinhas da Feira do Livro de Santa Maria, eis uma reportagem sobre a Quadrante X e a Quadrinhos S.A. escrita por mim no ano passado (as fotos e a legenda são de hoje):

Os X-men de Santa Maria

Você não precisa ir até a única janela da sala de aproximadamente 9m2 para ver a chuva. A um metro da soleira, algumas gotas insistem em cair do teto, encharcando o carpete. Uma estante de metal, que ficava bem ali, foi afastada para não molhar os gibis. Muitos exemplares, como a versão em quadrinhos de "Hamlet" e "O Conde de Monte Cristo", foram empilhadas em cima da mesa, perto da porta, no lado oposto ao da janela, para não molharem. Na estante de madeira, formando um triângulo com a porta e a janela, alguns livros de mangá e gibis raros descansam, longe da água. Um mural, alguns cartazes de filmes, como o do Homem-Aranha, e um quadro adornam as paredes com apenas uma demão de tinta, na promessa de serem pintadas assim que o tempo melhorar.

Essa é a sede da Quadrinhos S.A., o núcleo de quadrinistas de Santa Maria. A sala - onde o núcleo está desde abril, depois de ter passado por outras três salas da Casa de Cultura - tem também uma cafeteira, doada pelas professoras da escola de artes, um andar abaixo (estava estragada, os quadrinistas consertaram, as professoras decidiram deixar com eles). Também há um ponto de internet, apesar de não haver computador, pelo risco de estragar com as goteiras do teto.

O X da questão

Olhando para o Trava desenhado numa das paredes ao lado de outras figuras, você fica imaginando como ele seria diferente se fosse colorido. Trava é o personagem do Milton, ex-integrante da Quadrinhos S.A.. Ex, porque perdeu o emprego e teve que se mudar para Porto Alegre, onde trabalha como publicitário. Não dava para se sustentar apenas com a renda das tiras que publica no Diário de Santa Maria.

A saída de Milton foi uma grande perda para a Quadrinhos S.A., pois o quadrinista costumava passar seu conhecimento aos demais. Nomes de referência, porém, não faltam.


[charge do AlMário, um dos integrantes do núcleo, para a sétima edição da Quadrante X]


Byrata, por exemplo, que já foi presidente da Quadrinhos S.A. e está quadrinizando a lenda de Imembuí, é um dos quatro integrantes - ao lado de Orlando Fonseca, Máucio e Elias - da Associação Cultural Grupo de Risco, entidade criada no final da década de 90 para promover as histórias em quadrinhos. Dessa união surgiu a revista Garganta do Diabo, que em dezembro do ano passado foi ressuscitada em forma de encarte pelo Diário (ao fim de 2005, isso deverá acontecer de novo). O Grupo de Risco também visitou escolas e distribuiu, em 1998, a Gargantilha, uma cartilha editada gratuitamente pelos quatro com o objetivo de assessorar os professores dos Ensinos Fundamental e Médio a usar quadrinhos em sala de aula. É por essas e outras que Marcel Jacques, estudante de Desenho Industrial e membro da Quadrinhos S.A., define o quarteto como "ícones do quadrinho santa-mariense".

A inspiração para a Quadrante X, revista do núcleo de quadrinistas, deve ter saído daí. A Quadrinhos S.A. está às vésperas de lançar a sexta edição, cujo número zero surgiu em maio de 2003. A tiragem gira em torno de 300 a 500 exemplares, conforme a verba. A periodicidade é instável, também: entre 3 ou 4 meses sai um novo número, dependendo do orçamento e da disponibilidade de tempo dos membros do núcleo, que não vivem dos quadrinhos.

Quadrante X foi a segunda denominação mais votada na eleição para o nome do grupo. Ganhou Quadrinhos S.A. e o segundo lugar virou nome da revista. Mas por que o X? Marcel conta que muita gente pergunta se tem a ver com os X-Men, famoso grupo de personagens mutantes da editora Marvel Comics. Não tem nada a ver com isso!

- O "X da questão" é Santa Maria! - esclarece Marcel.

Não é à toa que a capa do número zero da Quadrante X foi o desenho de um xis sobre um fundo preto, marcando as coordenadas geográficas da cidade: 29,68417 graus Oeste, 53,80694 graus Sul.


[Marcel, no lançamento da revista hoje]


Heróis

O quadro é o elemento básico de qualquer história em quadrinhos. No caso da Quadrinhos S.A., porém, o quadro às vezes parece desolador.

A Quadrinhos S.A. foi fundada em 21 de março de 2002, inicialmente com 45 membros. Hoje eles são onze, entre professores, estudantes, artistas plásticos e profissionais desempregados. Cada um paga uma mensalidade de R$ 1,00 para a compra de materiais, como nanquim e papel. O valor não é suficiente para a aquisição de obras de referência, como "Quadrinhos e arte seqüencial", de Will Eisner, e "Desvendando os quadrinhos", de Scott McCloud. Portanto, o núcleo vem se virando a base de promoções, como dois manuais de desenho por apenas R$ 3,90. (Marcel vai fazer uma proposta para Jesus Ferreira, dono da Zona Franca Comics, loja do Santa Maria Shopping, para parcelar em ao menos duas vezes o "Narrativas gráficas", do Eisner. O livro custa quarenta reais).

Apesar das dificuldades, a Quadrinhos S.A. orgulha-se de não depender de nenhuma verba da Secretaria de Cultura. A prefeitura cedeu a sala na Casa de Cultura e nada mais. O resto é por conta deles.

O segredo da continuação do núcleo de quadrinistas perante todos os revezes é um estatuto forte e muita dedicação. Dedicação essa que faz os integrantes pensarem grande: a Quadrinhos S.A. ambiciona, um dia, virar empresa! E aí a Quadrante X não vai mais ficar escondida nas bancas de jornal de Santa Maria, atrás de dezenas de gibis coloridos: o grupo terá sala própria, orçamento, estrutura! Mas continuará sendo a Quadrinhos S.A., aquela que ficava no segundo andar da Casa de Cultura, onde, quando chovia, molhava tudo...


4 comentários:

Anônimo disse...

É quase ao vivo este troço... gostei da conversa de tu com você mesmo acima... Show!!! Menino-talento!

Leo

Fran Rebelatto disse...

menino talento???que nada coisa loira, show de bola esse destaque para nossa cultura local. Parabéns pela reportagem...

Beijos

Anônimo disse...

Cara, muito massa essa sua iniciativa de divulgar o evento e a revista Quadrante X, pena que ainda não há como adquir um exemplar por aqui em Sampa pq parece ser mto legal

Anônimo disse...

Todas as economias?
Puxa, não é preciso tanto, basta adquirir um exemplar que tu estará garantindo o próximo número. Mas mesmo assim, agradeço a intenção.
E caso ninguém saiba, o Quadrante X se faz assim: a vendagem de um número garante o próximo, e assim a gente vai. Sem lucros individuais, tá certo, mas nosso objetivo é crescer e fazer cada vez melhor para quem acompanha este trabalho.
Agradeço aos leitores e convido a quem não nos conhece a dar uma bisbilhotada nas páginas do Quadrante X.
(e como já disse em outras páginas internet à fora, esta é uma das melhores matérias feitas sob o Quadrinhos S.A., cuja essência contém todo sacrifício feito pela sobrevivência desta entidade!)
Grato pela atenção...abraço pra todo mundo!