quarta-feira, novembro 12, 2008

Chibata

Esta quem me passou foi o amigo Beto Frizero, do Locutório:



"Olinto Gadelha Neto e Hemeterio lançam Chibata!
por Pedro Brandt, do Correio Braziliense

No começo do século passado, a vida na Marinha brasileira era especialmente difícil para os marujos. Por mais que a Proclamação da República tivesse abolido os castigos físicos na instituição, apenas um ano depois as punições voltaram a ser oficializadas. As faltas, dependendo do caso, eram punidas com dias na solitária e chibatadas (que poderiam chegar a 25). Para piorar, o que se via na prática era muito mais que punições visando domar a índole dos subalternos – a chibata era usada por qualquer motivo. Quem mais sofria eram os marujos negros – ou seja, a maioria nas embarcações. Inconformados com a situação – maus-tratos, soldo irrisório e rações estragadas – um grupo de marujos e oficiais de baixa patente começou a se organizar no que ficou conhecido como a Revolta da Chibata. O episódio, que até algumas décadas era um assunto tabu, inspirou a história em quadrinhos Chibata!, da dupla cearense Olinto Gadelha Neto e Hemeterio."

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No email do Beto, ainda havia esta pequena entrevista com um dos autores:

"Três perguntas para - Olinto Gadelha Neto
Como foi a pesquisa para a obra?

Pesquisa, roteiro e desenhos levaram dois anos. A pesquisa foi feita usando um vasto leque de materiais, especialmente livros. Alguns, como a 'bíblia' do assunto, A revolta da chibata, de Edmar Morel, se tornaram referência constante. Era preciso, aqui e ali, consultar livros mais genéricos sobre a história brasileira da época para pinçar um detalhe ou outro. A realização do roteiro deve muito à Biblioteca Pública Menezes Pimentel, aqui de Fortaleza. Eventualmente, uma viagem ao Rio de Janeiro, cenário do livro, selou a pesquisa e ajudou a pôr em ordem a geografia de cenas e o encaixe de certas passagens.

Alguma informação foi mais difícil de encontrar?

É preciso não esquecer que parte do enredo do livro é ficção, tanto para adicionar tempero, como para completar severas lacunas que existem na história de João Cândido. Não há registro documental de certos períodos da sua vida, apenas alguns fatos, datas, nomes de lugares onde viveu. A infância de João Cândido, por exemplo. O que fiz foi adequar essas partes dramatizadas ao todo da história. Então, ficção une-se aos fatos, retratados logo em seguida, fechando a saga. Um personagem, assim, épico não surge pronto como herói. É preciso entendê-lo, dar sentido a sua vida e a sua luta, saber de onde vêm suas motivações e como surgiu o instinto para a liderança.

Você inseriu diversas personalidades brasileiras na história. Isso foi uma liberdade artística ou elas realmente tiveram esse envolvimento?
Na verdade, foram ambos. Oswald de Andrade, por exemplo, foi testemunha dos eventos da revolta, tendo escrito um pequeno (e bastante cômico) depoimento sobre a noite em que os marujos se amotinaram. Aparício Torelly, o Barão de Itararé, também foi parte tangencial dessa história. Ao publicar duas reportagens sobre a revolta, foi recolhido na porta do jornal, conduzido à força por homens da Marinha que o espancaram e o soltaram nu, no meio da rua. Conseguiram, assim, suspender a série de reportagens investigativas sobre os fatos (seriam dez) e provocaram no impagável Barão a criação da placa 'entre sem bater.'"

2 comentários:

Robertson Frizero disse...

O que mais me chamou a atenção foi a enorme pesquisa que eles fizeram para chegar até a publicação... Fiquei interessado, vou comprar e depois te conto!

Paulo Rená da Silva Santarém disse...

Esse vale a pena dar de presente!