Como prometido no post anterior, eis a matéria produzida pela minha amiga Thaís durante a Oficina de Jornalismo do Correio do Povo. As fotos - e a gentileza de tê-las cedido - são da Francieli Rebelatto:
Conhece o Santiago?
Histórias e traços do cartunista, que lança seu 13° livro na Feira do Livro de Porto Alegre
por Thaís Brugnara Rosa
Na longa fila, os leitores já esperam: “Tu entra com a lingüiça e eu, a massa”. É nesse tom que o cartunista autografa “Conhece o Mário?” (L&PM, 2006), uma coletânea de empulhas registradas em anos de bares e botecos. “É um manual de auto-ajuda, sou quase um Santiago Coelho”, brinca. Duas horas depois de muitas assinaturas e risadas, Santiago ainda dispõe de bom humor para contar histórias – desde que tenha à mão papel e caneta para ficar rabiscando.
Bang-bang entre xerifes de bombacha
A infância “no Santiago do Boqueirão” foi tranqüila. Os cinco irmãos se divertiam nas visitas à propriedade rural em Itacurubi. Eles não tinham TV, mas iam ao cinema nos domingos assistir aos filmes de faroeste. Das telas para o papel, os caubóis adquiriam características dos gaúchos. “Os chapeludos de revólver falavam com expressões gaudérias”, lembra.
Neltair Abreu passou a ser Santiago quando, aos 19 anos, mudou-se para Porto Alegre. A adaptação foi difícil: “Achei que nunca teria amigos nesta cidade enorme”. Foram três anos em diversos trabalhos; entre eles, desenhar móveis. “Pensava-se que quem desenhava bem ia pra Arquitetura”. E foi o que ele fez. Aprovado na Ufrgs, passou a colaborar com jornais estudantis. Um deles chamava-se Construção. Publicado por estudantes de Engenharia, o periódico foi apreendido pelo Dops em 1973. “Me escondi, mas não chegaram a me procurar. Eu já estava refugiado no nome Santiago.”
O estudante ia bem nas disciplinas mais criativas, mas não era aprovado nas técnicas. “Repeti mais de cinco vezes as matérias de Álgebra e Mecânica”, confessa. Após desistir da faculdade, começou a trabalhar no Jornal da Tarde. No início, era ilustrador; em seguida, fazia charges.
Obras-primas, mesmo com enxaqueca
Do bolso, Santiago tira uma cartela de Neosaldina, analgésico que alivia a dor de cabeça. “Tem dias que tenho enxaqueca e tenho que criar uma coisa engraçada. Mas com que humor?” Uma das saídas utilizadas são alguns truques gráficos. “Pega os quatro dedos do Lula e põe uma coisa que indica mais quatro anos de governo”, exemplifica e admite que a maioria dos bons trabalhos saíram sob pressão.
Para Santiago, a boa piada é a que une humor à crítica. “O humorista não é um bobo da corte.” Nas contribuições para publicações de esquerda e no trabalho diário, ele defende a distribuição de renda: “Sou a favor de um salário mínimo e também de um máximo. Que adianta ter três carros se não se pode usá-los ao mesmo tempo?”.
Lembranças da grande quermesse
Indignado quando o assunto é injustiça social, Santiago sorri ao falar de suas paixões. Ele adora cinema e as conversas de boteco. “A mulher só reclama às vezes, mas chego cedo e não bebo muito. Faz tempo que não me embebedo (risos).
Gosto mesmo é do bate-papo”. Pai de dois filhos, Santiago se diz “bem família”. O chimarrão o acompanha nas horas de leitura das revistas, jornais, biografias e, claro, quadrinhos. “Os americanos publicam em tiras; os europeus, em álbuns. Gosto muito do francês Moebius, um gênio que desenha ficção científica”.
Outra paixão é a Feira do Livro, “uma grande quermesse, sem brindes e sem sorteio”. Das memórias, surgem os passos lentos de Mário Quintana entre as bancas. Colegas na Folha da Tarde, eles se tornaram amigos. Entre um cafezinho e outro, o poeta queria saber a última piada, e o cartunista sempre sabia. Além das rodas de bar, ele lembra dos discursos quando a Feira coincidia com as campanhas eleitorais. Falando em campanha, neste ano, Santiago foi indicado a patrono da Feira – e fez campanha contra! “Não consigo me enxergar como patrono, tem que ser um senhor mais respeitável, com mais de 60”. Então, quem sabe daqui a 4 anos? “Veremos, diria um cego”, responde. Santiago tem que ir. A família o espera. Depois de uma hora de conversa, só mais uma perguntinha:
— Por que, durante a entrevista, não paraste de desenhar robôs?
— Tenho uma compulsão de riscar e os temas saem independentes do meu gosto. Sempre. É uma coisa meio mediúnica.
Conhece o Santiago?
Histórias e traços do cartunista, que lança seu 13° livro na Feira do Livro de Porto Alegre
por Thaís Brugnara Rosa
Na longa fila, os leitores já esperam: “Tu entra com a lingüiça e eu, a massa”. É nesse tom que o cartunista autografa “Conhece o Mário?” (L&PM, 2006), uma coletânea de empulhas registradas em anos de bares e botecos. “É um manual de auto-ajuda, sou quase um Santiago Coelho”, brinca. Duas horas depois de muitas assinaturas e risadas, Santiago ainda dispõe de bom humor para contar histórias – desde que tenha à mão papel e caneta para ficar rabiscando.
Bang-bang entre xerifes de bombacha
A infância “no Santiago do Boqueirão” foi tranqüila. Os cinco irmãos se divertiam nas visitas à propriedade rural em Itacurubi. Eles não tinham TV, mas iam ao cinema nos domingos assistir aos filmes de faroeste. Das telas para o papel, os caubóis adquiriam características dos gaúchos. “Os chapeludos de revólver falavam com expressões gaudérias”, lembra.
Neltair Abreu passou a ser Santiago quando, aos 19 anos, mudou-se para Porto Alegre. A adaptação foi difícil: “Achei que nunca teria amigos nesta cidade enorme”. Foram três anos em diversos trabalhos; entre eles, desenhar móveis. “Pensava-se que quem desenhava bem ia pra Arquitetura”. E foi o que ele fez. Aprovado na Ufrgs, passou a colaborar com jornais estudantis. Um deles chamava-se Construção. Publicado por estudantes de Engenharia, o periódico foi apreendido pelo Dops em 1973. “Me escondi, mas não chegaram a me procurar. Eu já estava refugiado no nome Santiago.”
O estudante ia bem nas disciplinas mais criativas, mas não era aprovado nas técnicas. “Repeti mais de cinco vezes as matérias de Álgebra e Mecânica”, confessa. Após desistir da faculdade, começou a trabalhar no Jornal da Tarde. No início, era ilustrador; em seguida, fazia charges.
Obras-primas, mesmo com enxaqueca
Do bolso, Santiago tira uma cartela de Neosaldina, analgésico que alivia a dor de cabeça. “Tem dias que tenho enxaqueca e tenho que criar uma coisa engraçada. Mas com que humor?” Uma das saídas utilizadas são alguns truques gráficos. “Pega os quatro dedos do Lula e põe uma coisa que indica mais quatro anos de governo”, exemplifica e admite que a maioria dos bons trabalhos saíram sob pressão.
Para Santiago, a boa piada é a que une humor à crítica. “O humorista não é um bobo da corte.” Nas contribuições para publicações de esquerda e no trabalho diário, ele defende a distribuição de renda: “Sou a favor de um salário mínimo e também de um máximo. Que adianta ter três carros se não se pode usá-los ao mesmo tempo?”.
Lembranças da grande quermesse
Indignado quando o assunto é injustiça social, Santiago sorri ao falar de suas paixões. Ele adora cinema e as conversas de boteco. “A mulher só reclama às vezes, mas chego cedo e não bebo muito. Faz tempo que não me embebedo (risos).
Gosto mesmo é do bate-papo”. Pai de dois filhos, Santiago se diz “bem família”. O chimarrão o acompanha nas horas de leitura das revistas, jornais, biografias e, claro, quadrinhos. “Os americanos publicam em tiras; os europeus, em álbuns. Gosto muito do francês Moebius, um gênio que desenha ficção científica”.
Outra paixão é a Feira do Livro, “uma grande quermesse, sem brindes e sem sorteio”. Das memórias, surgem os passos lentos de Mário Quintana entre as bancas. Colegas na Folha da Tarde, eles se tornaram amigos. Entre um cafezinho e outro, o poeta queria saber a última piada, e o cartunista sempre sabia. Além das rodas de bar, ele lembra dos discursos quando a Feira coincidia com as campanhas eleitorais. Falando em campanha, neste ano, Santiago foi indicado a patrono da Feira – e fez campanha contra! “Não consigo me enxergar como patrono, tem que ser um senhor mais respeitável, com mais de 60”. Então, quem sabe daqui a 4 anos? “Veremos, diria um cego”, responde. Santiago tem que ir. A família o espera. Depois de uma hora de conversa, só mais uma perguntinha:
— Por que, durante a entrevista, não paraste de desenhar robôs?
— Tenho uma compulsão de riscar e os temas saem independentes do meu gosto. Sempre. É uma coisa meio mediúnica.
2 comentários:
Eu digo que o repórter fotográfico é um nada na redação, pois os repórteres e editores enfim, sempre vão escolher as piores fotos, heheheh...Capaz Augusto, é um imenso prazer ter as minhas fotos no teu ilustre blog, assim como foi um imenso prazer ter acompanhado a entrevista com o Santiago uma pessoa incrívelmente bem-humorada e principalmente humana, sempre preocupada com o próximo....
Eu sou fã do Santiago!! Sempre mt atencioso, tenho ótimas lembranças dele na nossa Semana Acadêmica (mesmo com o estress da organização), do Cartucho, da campanha do DCE q mesmo d longe ele fez questão de acompanhar o movimento estudantil, de visitas em família... figuraça esse menino!
Eu tava no lançamento do "Conhece o Mário?" em POA, tenho um autógrafo e uma dedicatória dizendo q ñ é um livro para damas, hehehehhe
T+ e "Abraços Contestatários!"
(Palavras do Santiago, que sempre me respondia os e-mails adjetivando com 'contestatário', ehheheh)
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