quarta-feira, janeiro 18, 2006

Aplauso para Zé Cariúcho

Saiu na edição 71 da revista gaúcha Aplauso um texto tão bom que faço questão de resumir aqui. A reportagem é sobre o desenhista Renato Canini, que ilustrou as páginas do Zé Carioca por um período de cinco anos, na década de 70.

Mostrando o Canini
O cara nasceu em Paraí, na serra gaúcha, em 22 de fevereiro de 1936 (completa, portanto, 70 anos em 2006). Agora mora em Pelotas, também no Rio Grande do Sul. Diz que não gosta muito de viajar e que, por isso, fez o Zé Carioca sem nunca ter pisado no Rio de Janeiro (brinca que foi por cartão-postal!).

A trajetória de Renato Canini por si só já garante segurança no passo e no traço. Ele colaborou com o célebre O Pasquim e publicou muitos livros (olha que engraçado o título desta antologia sobre a Revolução Farroupilha, movimento liderado por Bento Gonçalves: E o Bento Levou...). Também tem uma porção de outros livros na fila para serem publicados. Inclusive saiu uma edição da série Mestres Disney com o seu trabalho (cutuque aqui!). Mas é mesmo com o Zé Carioca que Canini ficou conhecido. Internacionalmente, diga-se de passagem...

O que o gaúcho fez com o carioca
Por incrível que pareça, o Zé Carioca (uma personagem com história bem ideológica) não foi agauchado. Pelo contrário, ficou mais carioca, perdendo o antigo fraque, os sapatos e a bengala e passando a andar descalço e vestindo bermuda e camiseta na Vila Xurupita, uma favela fictícia do Rio de Janeiro. Em suma, foi abrasileirado. E com os traços do cartunista gaúcho. Segundo Renato, isso desagradou a Walt Disney, provocando seu afastamento.

Uma curiosidade: por ser um funcionário da Disney, Canini não podia assinar seus desenhos. Mas ele deu um jeito de registrar sua marca, literalmente. Se você vasculhar a obra do Zé Carioca da década de 70, certamente vai encontrar um "Sabão Canini" ou uma "Loteca Canini" despretensiosamente desenhados no cenário de algum quadro. Em outras, a assinatura é um pequeno caramujo.

Outras personagens

Renato Canini não foi autor de uma obra só. Entre suas criações, Zé Candango, um cangaceiro cearense que dava o maior pau nos heróis estrangeiros; Dr. Fraud, uma paródia da psicanálise freudiana; e Kactus Kid, um caubói ianque, que foi adaptado em duas animações (você pode ver uma delas cutucando aqui).

[à esquerda, o Kactus, óbvio. Abaixo, Dr. Fraud. Fico devendo o Zé Candango, que não consegui encontrar uma imagenzinha sequer da personagem na internet. Falha minha, vou ficar devendo essa...]

Os amigos mostram Canini
"Muita gente é especialista, mas ele é bom em tudo o que faz." (Edgar Vasques, cartunista gaúcho)

"Há uma falsa ingenuidade, uma candura das coisas simples no humor dele." (Santiago, idem)

"Sentado em sua mesinha, Canini quase ruboriza quando vem a pergunta sobre sua importância par as gerações de desenhistas de humor que se seguiram a ele. 'Pois é, eu não sei de onde vem isso. O pessoal diz: 'Olha, você me influenciou'. Mas às vezes não vejo nada parecido entre o desenho dos outros e o meu, talvez apenas um tracinho.' E essa coisa da simplicidade? 'É timidez mesmo', ele sorri." (trecho da reportagem)

A religião do cartunista
Por incrível que pareça, Canini não reza pela cartilha do eu-perco-o-amigo-mas-não-perco-a-piada. É justamente o contrário: o cara já deixou de desenhar muitas idéias suas em função do choque com valores da sua religião, o protestantismo. Tem inclusive organizado obras defendendo o criacionismo em detrimento do evolucionismo.

Feito o carreto
Bem, esse foi um breve e humilde resumo do que li. O ideal seria você se enganar com os próprios olhos. Se for o caso, ache um jeito de comprar a edição nº 71 da Aplauso no site da revista. Agora, se você não pode comprar, o que é uma pena, espero que tenha se informado um pouco pelo Cabruuum!!!!!!.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi, augusto! bom saber que existe o canini, já devo ter lido muitas histórias dele sem saber ou mesmo copiado o zé carioca dele, pois adorava desenhar o próprio. agora, por que será realmente que ele foi afastado, pela disney mesmo, em que circunstâncias? pelo que entendi, as pessoas acreditam em certa coisa, mas não tem certeza. do que aconteceu de fato. vale uma investigação?! entrevista o canini haha!