O texto abaixo, de autoria de Érico Assis, saiu no site Omelete:
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JORNALISMO EM QUADRINHOS
Recentemente estive numa dessas bancas de revista gigantescas, que tem literalmente revistas de todo o mundo, e pude ficar alguns minutos folheando. Encontrei uma coisa que me surpreendeu: o jornalismo em quadrinhos parece ser uma coisa que está “pegando”.
Acabei levando duas revistas: a 032c, alemã (com textos em inglês), e a XXI, francesa. A primeira é semestral, a segunda, trimestral. Sim, revistas européias têm nomes, periodicidades e várias outras coisas bem diferentes. Mas enfim: escolhi as duas porque ambas traziam reportagens em quadrinhos.
Na 032c era uma matéria sobre o futuro de Dubai, o país dos Emirados Árabes Unidos que é o futuro do turismo hiper-tecnológico, falando dos projetos arquitetônicos em desenvolvimento atualmente. Quem assina a matéria são dois arquitetos, que preferiram contar sua história em forma de quadrinhos: no futuro, a transformação sociocultural e arquitetônica de Dubai é mostrada através da vida de um menino de elite e de seu motorista da classe baixa, entre outros personagens que ajudam a montar esse panorama do que uma das maiores cidades do mundo virá a ser.
Na XXI, ok, já se podia esperar quadrinhos sendo uma revista francesa (há alguns anos se falava que 1 em cada 3 franceses é leitor de quadrinhos; é o segundo maior mercado consumidor de gibi do mundo, depois do Japão). A matéria é sobre a vida no campo, da plantação à colheita nas quatro estações, da perspectiva de um desenhista que decidiu trocar sua prancheta na cidade por um trator.
Sim, são histórias, com personagens, com balões de fala, com narrativa estruturada, com emoção, com vigor. Isso já é aceito no jornalismo há anos. A novidade está em usar a linguagem dos quadrinhos. Na imprensa brasileira, aqui e ali aparecem algumas reportagens em HQ. Os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo já encomendaram matérias produzidas desta forma. Nossa Revista Omelete, lançada em março de 2007, publicou uma reportagem do José Aguiar sobre o mercado europeu de quadrinhos no formato de HQ. E há vários outros exemplos. (A Piauí, uma ótima revista jornalística brasileira, também dedica bastante espaço a quadrinhos - mas, até onde lembro, a maioria das HQs dela não se caracteriza como reportagem, e sim no gênero ficcional.)
Nos EUA, a moda ainda não pegou. O New York Times e alguns outros jornais mais “pra frente” já encomendaram resenhas ou matérias de uma página em forma de quadrinhos, mas são poucos os exemplos. O interessante é ver iniciativas como a da editora Hill & Wang, que tem uma linha dedicada a quadrinhos-reportagem sobre a história dos EUA.
Um dos últimos lançamentos deles foi ’08: A Graphic Diary of the Campaign Trail, escrito pelo jornalista Michael Crowley e desenhado pelo quadrinista Dan Goldman. É um dos primeiros livros lançados sobre a emocionante campanha presidencial dos EUA no ano passado – se não o primeiro. E é todo em quadrinhos, como as boas HQs devem ser: layouts de páginas variados, bons diálogos, personagens carismáticos, narrativa heróica. Sem deixar de lado a precisão do bom jornalismo.
Joe Sacco - o principal nome do jornalismo em quadrinhos, que publica HQs sobre as zonas em conflito que visita - está criando escola. Ainda são poucos alunos, mas a turma está crescendo. Os quadrinhos já estão lado a lado com a boa literatura ficcional, mas ninguém imaginou que eles poderiam, um dia, estar disputando espaço como reportagens.
Quanto tempo falta para as Vejas e Épocas da vida publicarem uma matéria em HQ?
quarta-feira, junho 03, 2009
Jornalismo em quadrinhos
Postado por
Augusto Paim
às
5:16 AM
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