Hoje, então, vou dar todo o itinerário.
Estava eu belamente visitando a comunidade no orkut sobre Jornalismo Gonzo. De lá, fui parar no Jornalista de Merda, onde tem esse desenho aí do lado, na cabeceira do blog (vale a pena visitá-lo: no último post, o jornalista André Pugliesi conta suas peripécias carregando a tocha do Pan-Americano, mostrando, com extrema realidade, o peso da sua tarefa).
Bem, há um link no Jornalista de Merda que diz "Crédito". Cutuquei ali com o mouse e fui parar no Benett-o-matic. E eis que, enfim, cheguei à pauta deste post.
O Benett é o cara que fez o desenho para o blog do André. Gostei das tiras dele, e mandei-lhe um e-mail com perguntas bem simples, dessas que até um guri na rua pode fazer, se você lhe der umas balinhas.
Daí que, mais divertido que desvendar o caminho de produção da notícia, é ler as respostas que os cartunistas costumam dar às perguntas. Realmente, muito divertido. Vou transcrever tal e qual:
Eu: Então, Benett, são perguntas simples, pra começar. Tu tem o blog desde janeiro de 2003, não é? Como começou (vinculado a algum projeto, iniciativa própria, em que momento de inspiração, etc.)?
Benett: Lembro ter pensado, na época, que blog era um site feito para retardados poderem atualizar, sem precisar entender porra nenhuma de linguagem de informática. Ou seja, sob medida para mim. Muito mais prático que um site e sem editores... eu estava livre para publicar o que bem entendesse a hora que quisesse. E hoje, considero o melhor veículo para se publicar material autoral. E o que paga pior.
Eu: Qual tua formação? Aliás, que idade tu tem?
Benett: Sou formado em jornalismo e tenho a mesma idade de quando aquele garotão de barbas e cabelos longos vestiu o paletó de madeira, há pouco mais de dois mil anos...
Eu: Está trabalhando? E já trabalhou antes?
Benett: Trabalho num jornal chamado Gazeta do Povo, de Curitiba, há quase 8 anos, como ilustrador e chargista. Antes, trabalhei como chargista num jornal do interior. Fora outros empregos como balconista de locadora e outros piores.
Eu: Tenho autorização para publicar alguns trabalhos teus no cabruuum?
Benett: Claro, à vontade. Pega o que quiser.
Bem, já nem vejo necessidade de "re-postar" os trabalhos do Benett aqui. Afinal, a resposta dele já deve deixar você curioso, não? Bem, então batuque com o mouse aqui!
***
Ps.: as perguntas que fiz para o Benett eram iniciais, para começo de conversa. Depois faria outras, e outras, até ter uma reportagem. Assim se faz jornalismo, com os bastidores ficando só em ciência do repórter e do entrevistado. Bem, eu acho isso um saco.
Como a resposta do Benett já me pareceu bem reveladora (na medida do possível), deixei o e-mail falar por si mesmo.
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Ps2.: por outro lado, isso me faz lembrar de outras entrevistas/perfis que saíram aqui no cabruuum, todas iniciadas com essas minhas perguntas inteligentíssimas. Eheheh.
Vale relembrar:
* Pablo Mayer - a resposta dele há um e-mail meu também foi divertidíssima. Transcrevi-a no post, veja. Depois, ainda publiquei mais alguns de seus desenhos.
* André Dahmer - essa foi a mais fenomenal de todas. Mandei um e-mail para o famoso autor dos Malvados, que também publica no Estadão. Fui esnobemente esnobado. Mesmo assim, desprovido de auto-estima, fiz um post sobre o trabalho do cara, ao melhor estilo Jornalismo Gonzo (já me perguntaram se eu estava realmente borracho quando fiz o texto. A resposta é óbvia: sim!).
Depois fiz mais três posts: no primeiro, falei do site dos Malvados, a despeito da resposta do Dahmer: "a imensa maioria de suas perguntas outros jornalistas já fizeram"; no segundo, fiz uma análise semiótica de uma tira, dessa vez sem estar borracho; no terceiro, segui com a análise.
Para minha surpresa, o André Dahmer voltou ao blog. Deixou um comentário no post seguinte, que me deixou feliz à beça. Aí o cabruuum mal tinha um mês de existência, então o fato foi fundamental para ele estar aqui até hoje.
É isso. Desculpa esse saudosismo, mas é sempre bom lembrar de coisas que foram/são importantes...
Um comentário:
"Assim se faz jornalismo, com os bastidores ficando só em ciência do repórter e do entrevistado. Bem, eu acho isso um saco"
Eu também acho um saco, e suspeito que parte do desgosto das pessoas com o jornalismo vem justamente desse "ocultamento" exagerado do processo de produção da notícia, tornando-o uma coisa por demais sóbria/misteriosa, longe dos pobres mortais que não sabem escrever um lead.
Legal que tu mostre isso. Os blogs tem esse processo facilitado, e talvez seja por aí que eles venham a buscar a vanguarda do jornalismo produzido hoje.
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